Aeroporto em Transe
Davi Lemos*
O grande Dias Gomes ficaria muito surpreso se tivesse andado por Vitória da Conquista por esses dias e acompanhasse o noticiário e o falatório sobre a inauguração do Aeroporto Glauber Rocha. Sentir-se-ia em Sucupira durante a inauguração do famoso cemitério.
Gomes poderia ver no governador Rui Costa um outro Odorico Paraguaçu, mas doido para inaugurar o Aeroporto e não um campo santo. Lembrando do caso do equipamento público na obra do dramaturgo baiano, Odorico o queria logo em funcionamento, mas faltavam os mortos.
Rui queria logo ver os voos em Conquista, mas não combinou com Zeca Diabo, que também pode ser chamado de Jair Bolsonaro e que não é, como o Diabo diante do Odorico, seu subalterno ou jagunço.
Os planos do petista foram logo sepultados, pois o presidente da República, ao ver que maior parte dos recursos para o Aeroporto eram da União, logo quis vir inaugurá-lo até mesmo para tentar desfazer a pecha de que não gosta do Nordeste e seus “paraíbas”.
Na trama da vida real, não faltaram Irmãs Cajazeiras defendendo um e outro. Foram desenroladas versões de todos os lados – quem apresentou a primeira emenda parlamentar, quem assinou ordem de serviço e vistoriou, e por aí vai. E o aeroporto leva o nome de outro ilustre baiano como Dias Gomes: o cineasta Glauber Rocha. O homenageado não foi mencionado e nem os filhos quiseram ir ao palanque – não quiseram meter o nome do pai em querela política.
Odorico chamou Zeca para ajudá-lo a inaugurar o cemitério; Zeca, ao saber de uma tramóia de Odorico, acabou enviando-o mais cedo para lá. Na vida real conquistense-baiana, Odorico e Zeca Diabo continuam vivos a ativos e não se pode mais dizer que permececem em guerra fria: o embate foi declarado. Resta saber quem será sepultado e quem vai decolar em 2020 e em 2022.
*Davi Lemos é jornalista