quinta-feira, 2 de maio de 2024

Artigo: O piso nacional da enfermagem no meio da guerra político-eleitoral

Foto: Divulgação

José Falcón Lopes

Após dois anos de pandemia, a Bahia amanheceu nesta segunda-feira, 12 de setembro de 2022, podendo comemorar o fato de não ter registrado nenhuma morte por Covid-19 no dia anterior. Este fato é resultado de um milagre isolado? Ou do trabalho das equipes de saúde daqui e de outros estados do Brasil?

Já estão distantes os dias em que assistíamos reportagens dramáticas na televisão mostrando a luta de médicos e enfermeiros para tentar salvar as vidas das pessoas contaminadas pelo coronavírus. Era gente entubada com falta de ar, gente entubada com hipertensão, gente entubada com sobrepeso e problema no coração, gente entubada com problema nos rins e por aí vai. As pessoas ficavam isoladas nos hospitais, sem receber visitas de amigos e parentes.

Equipes multidisciplinares formadas por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais e outros profissionais tentaram minimizar este sofrimento. Muitos destes profissionais também foram contaminados e outros tantos chegaram a óbito. Alguém tem essa estatística? Afinal, quem se importa com isso?

Entre mortos e sobreviventes, o que restou do reconhecimento à ação destes profissionais?

A minha percepção é que as equipes multidisciplinares de saúde foram e continuam sendo utilizados como massa de manobra na guerra político-eleitoral de narrativas. Uma guerra que, na realidade, visa a conquista do poder e a chave do cofre público.

Os belos discursos sempre solidários dos políticos, as reportagens dramáticas e os editoriais combativos dos grandes meios de comunicação – com seus âncoras emocionados e com voz empostada -, todos estão se lixando para as pessoas que formam as equipes multidisciplinares de saúde.

Ou você já viu alguma equipe ser homenageada ou premiada agora no pós-pandemia?

Para além da pandemia, a luta diária nos hospitais e unidades de saúde do País, continua.

Defender a aprovação do piso nacional da enfermagem e de outras categorias como fisioterapeutas e assistentes sociais é o mínimo de reconhecimento que poderia haver por parte da classe política, dos ministros do Supremo Tribunal Federal e de toda a elite do funcionalismo público do Judiciário, dos empresários da saúde, enfim, de toda a sociedade brasileira que depende muito destes profissionais.

É curioso observar que muitos políticos e operadores do Direito que hoje pregam cautela na aprovação do piso nacional da enfermagem com argumentos esdrúxulos como, por exemplo, a observação das contas públicas da saúde dos Estados e dos Municípios ou a falta de planejamento financeiro dos empresários da saúde, não pregavam essa mesma cautela com o dinheiro público quando houve farta liberação de recursos para se montar os hospitais de campanha, contratar mais profissionais e comprar respiradores e outros equipamentos superfaturados durante a pandemia.

Queriam até a liberação da compra de vacinas por parte dos Estados e Municípios. Todos queriam fazer negócio com os laboratórios…

Mesmo com tantas contratações de equipes, aluguéis de imóveis e compra de equipamentos, havia recursos e ninguém quebrou. Era governador anunciando acordo para comprar vacina russa, chinesa, americana… Ou você já esqueceu?

Se passarem o “pente fino” com uma Operação Lava-Jato da pandemia, desconfio que vão faltar camburões e vagas nos presídios para prender tanta gente.

O mais impressionante é ver alguns sindicalistas, os representantes da “classe trabalhadora”, que defendem o “salário mínimo ideal” de mais de R$ 6 mil calculado pelo Dieese, serem contrários ao piso de R$ 4,7 mil da enfermagem. Quanto cada sujeito desse deve receber por debaixo do pano? A quem essa gente serve?

Porque nenhum jurista, nenhum político ou sindicalista propõe diminuir os R$ 4,9 bilhões do fundo partidário para garantir o pagamento do piso da enfermagem?

Para serem vitoriosos, enfermeiros e enfermeiras precisam continuar se organizando e protestando por todo o País, exigindo a aprovação do piso nacional e combatendo quem faz um discurso bonito sobre os profissionais da saúde, mas na prática não quer pagar o piso.

O primeiro e verdadeiro reconhecimento a qualquer categoria profissional é dinheiro no bolso para viver com dignidade. Simples assim.

José Falcón Lopes é jornalista.

Atenção: As opiniões defendidas pelo autor do artigo não correspondem às opiniões do veículo.

12 de setembro de 2022, 09:00

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