sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Miss Santa Catarina reage a ataques racistas e reforça importância da representatividade

Foto: Reprodução

Da Redação

A modelo Pietra Travassos, 18, atual Miss Santa Catarina, transformou a faixa conquistada em outubro em um gesto político, ainda que involuntário, ao se tornar alvo de ataques racistas nas redes sociais após a coroa.

Em entrevista à Veja, Pietra conta que a violência virtual, que se repetiu em dezenas de comentários, reforçou para ela a urgência do debate sobre racismo e sobre o papel de mulheres negras em espaços historicamente pouco diversos, como os concursos de beleza.

“Fiquei muito surpresa. No início chorei, não por duvidar de mim, mas porque eram comentários muito agressivos”, lembra. “Minha família me apoiou muito e me ajudou a focar no lado positivo. Escolhi não me prender à negatividade.”

Pietra, que agora se prepara para disputar o Miss Brasil, diz que a exposição repentina trouxe dor e responsabilidade, mas também orgulho. “Recebi mensagens de mães e meninas dizendo que se sentiram representadas. Isso é muito gratificante.”

Para a jovem, a internet tem funcionado como amplificadora de ataques raciais. “É fácil atacar alguém por trás de uma tela. As pessoas esquecem que estão falando com uma pessoa de verdade, com sentimentos. Falta empatia. Não concordar é normal, mas o respeito é essencial”, afirma.

O episódio levou a Miss Santa Catarina a reavaliar a importância do Mês da Consciência Negra. “Ganhou um significado ainda maior. É um mês que mostra a força das pessoas negras e o quanto podemos ocupar qualquer espaço.”

Referência

O título estadual fez de Pietra uma referência imediata para muitas meninas, algo que ela percebeu rapidamente. “Minha mensagem a elas é: acreditem em si mesmas. Não adianta o mundo te apoiar se você não acredita em você. Nada impede uma menina negra de participar de um concurso de miss. É preciso se desafiar.”

Segundo ela, parte do preconceito que enfrentou revela o quanto ainda é necessário discutir padrões estéticos e a pluralidade da beleza brasileira.

Às vésperas da competição nacional, a modelo diz que quer defender a representatividade em todas as frentes,  não apenas racial. “Acredito que todas as mulheres, negras ou brancas, devem se sentir acolhidas. Quero representar a força, a empatia e a ética das mulheres reais.”

Da escola pública às passarelas

O caminho até o mundo da moda começou cedo. “Desde pequena sempre gostei”, conta. Aos 12 anos, entrou em uma agência de modelos e começou a aprender postura, expressão facial e técnica de passarela.

O impulso decisivo veio na escola pública onde estudava, durante uma gincana cultural que elegia os melhores alunos. “Ganhei, e uma professora incentivou a me inscrever no Miss Santa Catarina”, lembra. Depois disso, conversou com a prefeita da cidade natal, Siderópolis, que abraçou a ideia e a ajudou a realizar o sonho.

Agora, vivendo uma nova fase, Pietra tenta se blindar da intolerância que encontrou no caminho, e transformar sua visibilidade em uma plataforma de inspiração. “Escolhi aproveitar o meu momento.”

14 de novembro de 2025, 16:30

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