Nem Roma, nem Nilo: Luiz Carlos diz que, caso apoie ACM Neto, Republicanos prefere Marinho na chapa

Alexandre Reis
Presidente do Republicanos em Salvador, vereador licenciado e secretário municipal de Infraestrutura, Luiz Carlos afirma que, caso haja uma decisão nacional para apoiar a candidatura do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) ao governo da Bahia, o partido vai reivindicar um espaço na chapa majoritária. Ele aponta como nome mais forte a ser indicado o do deputado federal Márcio Marinho, presidente estadual da legenda. Embora torça por uma reaproximação entre ACM Neto e o ministro da Cidadania, João Roma, filiado ao Republicanos e com quem tem uma boa relação, Luiz Carlos acha difícil que os dois estejam juntos na mesma chapa, mesmo caso o aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) desista ou não tenha condições políticas de disputar o governo do estado. Nessa entrevista exclusiva ao Toda Bahia, o vereador mais votado da capital em 2020 fala ainda sobre as conversas com o deputado federal Marcelo Nilo (PSB), o futuro político e os projetos de infraestrutura para a cidade.
Toda Bahia – O Republicanos deve, na opinião do senhor, lançar o ministro da Cidadania, João Roma, ao governo do estado?
Luiz Carlos – Esse é um assunto que estamos tratando nacionalmente. Temos figuras importantes no cenário nacional, como o presidente nacional do partido, o deputado federal Marcos Pereira (DF), e o vice-presidente nacional, o deputado federal Márcio Marinho, que comanda o Republicanos aqui na Bahia, que estão em melhores condições de tratar deste assunto. Até porque, essa decisão tem interface com outros estados. Então, é uma discussão que a gente aguarda uma resolução nacional.
“Eu faço parte do governo municipal porque acredito na proposta que está aí e em razão dos resultados contundentes, mas a decisão (sobre quem será o candidato a governador apoiado pelo Republicanos) depende de um desfecho nacional.”
TD – Há mais de uma década o Republicanos caminha com o antigo DEM e hoje União Brasil na Bahia. A sigla faz parte, inclusive, do governo Bruno Reis (União Brasil) na capital. Isso não aproxima mais o partido do senhor de um apoio ao pré-candidato do União Brasil, ACM Neto?
LC – Bom, cada eleição é uma eleição. A gente está ajudando esse projeto que vem sendo conduzido pelo ex-prefeito ACM Neto desde o primeiro momento. O Republicanos tem sido muito leal a Salvador e a esse projeto. O prefeito Bruno Reis pegou, como a gente chama, a máquina já azeitada e pronta para avançar, e tem feito um grande trabalho, cm 80% de aprovação popular. Agora, como eu disse antes, cada eleição é uma eleição. As negociações são livres. Eu faço parte do governo municipal porque acredito na proposta que está aí e em razão dos resultados contundentes, mas a decisão (sobre quem será o candidato a governador apoiado pelo Republicanos) depende de um desfecho nacional.
TD – João Roma quer ser candidato a governador no Republicanos e com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), como tem dito. Caso ele tenha êxito nesses dois pontos, o senhor acha que a relação com Bruno Reis fica estremecida e o partido pode perder o espaço que ocupa hoje na prefeitura, incluindo o do senhor?
LC – Penso que o partido tem dado contribuições importantes e não seria uma eventual candidatura do ministro João Roma que descontruiria essa reação sólida, sobretudo de projetos para a cidade, e não de espaços. Mas essa é a minha cabeça. Agora, não chegamos a esse nível de conversa com ACM Neto e nem com Bruno Reis. Estamos abertos ao diálogo e queremos seguir o que é melhor para a Bahia.
TD – O senhor tem uma boa relação com João Roma?
LC – Tenho sim, desde que Roma era chefe de gabinete de Neto na prefeitura e eu já era vereador. E essa relação continua dentro do partido. A gente se fala. Quando ligo, ele me atende e conversamos sobre política.
TD – Acredita numa reaproximação entre Roma e ACM Neto?
LC – Sempre acredito no poder de regeneração do homem, no poder de reflexão sobre os erros, os atos. Agora, às vezes isso leva mais tempo do que a gente espera e deseja. Muitas vezes, não conseguimos controlar as nossas emoções. Mas torço que isso aconteça, e com brevidade.
TD – Se houver uma decisão nacional de apoio à candidatura de ACM Neto, o Republicanos vai reivindicar um lugar na chapa?
LC – Eu acho que o partido tem condição, tem musculatura para isso. Temos prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, lideranças, temos tempo de TV e uma aliança de 11 anos. Se analisarmos um conjunto de coisas, o partido tem condição sim de compor.
TD – O nome ideal seria o de João Roma ou o de Márcio Marinho?
LC – Bom, primeiro temos que estar juntos. Segundo, temos que saber em que área vamos atuar, em que posição o partido vai estar nessa composição. O nome é a terceira coisa. Esse nome precisa ser consensual, não pode ser imposto pelo partido, já que são dois cargos, vice e senador, com uma relação muito direta com o gestor, que tem de aprovar. Não sei se Roma teria essa disposição e se Neto teria condições ou esse desejo de ter essa composição (com o ministro). O nome de Marinho é mais leve, no sentido da capacidade de articulação, de relação, ele seria muito importante do ponto de vista da construção de políticas públicas. Marinho foi parceiro durante muito tempo de Neto, encaminhando emendas para Salvador. Vejo ele com grandes chances de ser o nome indicado numa eventual composição.
TD – Marinho já foi, inclusive, vice de ACM Neto em 2008, nas eleições municipais em Salvador, quando foram derrotados por João Henrique. Aliás, recentemente, num evento público, Marinho chegou a chamar ACM Neto de governador. Foi um lapso ou um sinal de aliança que se aproxima?
LC – Acredito que tenha sido um lapso, talvez um desejo de que Neto se dê bem, mas não quer dizer que seja o candidato dele, de Marinho. O futuro espera por todos, é uma construção.
“Entre esse desejo de Marcelo Nilo e a concretização, ele
vai ter que percorrer um caminho de conversa conosco e com os demais partidos.”
TD – Há rumores de que o deputado federal Marcelo Nilo (PSB), que rompeu com a base do governo Rui Costa (PT), negocia a filiação ao Republicanos para ser candidato a senador na chapa de ACM Neto. Isso tiraria Marinho do páreo. Essas conversas existem?
LC – Marcelo Nilo manteve contato com a gente e externou o desejo de sair da base do governo, e isso já está claro e notório. Ele tem conversado com partidos para ver onde se encaixa melhor ideologicamente e, evidentemente, numa composição na qual possa colocar o nome dele. Todo mundo sabe desse desejo que ele tem de ser candidato a senador. Agora, entre esse desejo e a concretização ele vai ter que percorrer um caminho de conversa conosco e com os demais partidos.
TD – O senhor acha que Marcelo Nilo seria uma boa aquisição para o Republicanos? Ele teria identidade com o partido?
LC – Identidade se constrói. As pessoas, as relações findam e se iniciam a partir de ciclo de vida, de um momento de amadurecimento, de reflexão. Então, a relação se constrói. Primeiro, Nilo e Marinho têm uma relação antiga, foram deputados estaduais juntos e hoje são deputados federais. Ele sempre foi muito prestativo. Não acho que seja difícil construir uma relação partidária com base em um projeto.
TD – Nacionalmente, o Republicanos discute abertamente a possibilidade de não apoiar Bolsonaro e ficar neutro nas eleições de 2022, liberando os diretórios estaduais a tomarem decisões locais. O que o senhor pensa? Acha que o partido deve ficar neutro ou apoiar o atual presidente?
LC – Eu penso que é muito cedo para se tomar uma decisão sobre isso. Tem um conjunto de pesquisas aparecendo a cada dia. Então, você precisa entender esse desenho melhor, as coisas precisam ficar mais claras, para se tomar uma decisão sobre isso. Vamos esperar o melhor momento.
TD – O senhor foi o vereador mais votado de Salvador em 2020 e costuma ter o nome cogitado para ser candidato a deputado estadual ou federal este ano. Pretende ser candidato?
LC – Meu amigo, eu sou um soldado que tem que cumprir a sua missão e que está sempre pronto para a guerra. Eu mergulhei na secretaria com o desejo e a vontade de contribuir com a cidade, e não estou, nesse momento, discutindo o meu futuro político, até porque essas questões passam por um conjunto de fatores. O fato é que nesse momento não discuto candidatura minha. Pretendo continuar servindo ao povo, filiado ao meu partido e se o partido entender que seria interessante um outro projeto, vou seguir o que for determinado.
TD – E a presidência da Câmara Municipal de Salvador? Essa disputa seria mais interessante para o senhor?
LC – O presidente da Câmara é uma figura importante, é o chefe de um Poder e que tem, portanto, uma condição muito maior de contribuir com a cidade do que um simples vereador. Então, pensando nessa contribuição para a cidade, qualquer vereador vai tentar um dia estar ali fazendo com que seus projetos coletivos avancem mais rapidamente. Isso é normal. Existem vários nomes sendo postos, e qualquer um tem a mesma condição, então estou na condição igual a qualquer vereador que pode se candidatar.
TD – Nem tanto, afinal o senhor é secretário e está mais próximo do prefeito, que sempre tem um peso na disputa interna da Câmara…
LC – Não, isso é um engano (risos). Minha relação é normal.
“Nós vamos fazer uma intervenção ali na Rótula do Abacaxi, com investimento
de R$52 milhões, e vamos resolver definitivamente aquele abacaxi ali.”
TD – De que forma a pandemia afetou os investimentos em infraestrutura no primeiro ano de gestão de Bruno Reis em Salvador? E o que esperar de 2022?
LC – A obra é um instrumento importante para a cidade na medida em que dinamiza a infraestrutura, resgata valores, desenvolve Salvador economicamente e melhora a vida das pessoas. Durante 2021, apesar das dificuldades, nenhuma obra parou. Aliás, iniciamos várias. Para você ter uma ideia, entregamos 16 encostas em 2021. Agora em 2022 iniciaremos 31 encostas, incluindo as geomantas. Nós vamos fazer uma intervenção ali na Rótula do Abacaxi, com investimento de R$52 milhões, e vamos resolver definitivamente aquele abacaxi ali. Foi feito um conjunto de viadudos ali que não deu solução ao problema, que continua e vamos resolver. O projeto está pronto e estamos contratando uma operação de crédito para fazer essa obra, assim como faremos várias outras, como na Estrada do Curralinho, uma intervenção de R$15 milhões também para resolver a mobilidade. Salvador vai virar um canteiro de obras em 2022. Estamos otimistas, até porque o prefeito conseguiu controlar os gastos e manter o equilíbrio fiscal. Estamos com as contas em dia.
TD – Uma grande obra que o governo da Bahia pretende começar é a construção da ponte Salvador-Itaparica, que vai afetar diretamente a mobilidade na capital. Tem havido diálogo com a prefeitura sobre isso?
LC – Já conversamos diversas vezes. Eles apresentaram duas vezes o projeto para nós e têm respondido nossos questionamentos. De fato, é uma obra que vai gerar impacto em Salvador, gerar problemas, principalmente em pontos como a Avenida Contorno e a Via Expressa. Já estamos discutindo o que pode ser feito para amenizar o problema. Afinal, essa é uma obra que vai transcender governos e não pode ser colocada como elemento político, e sim técnico. Temos, inclusive, adotado essa rotina de convidar o governo do estado para apresentar projetos de obras da prefeitura que terão um impacto maior para saber se eles pretendem fazer alguma intervenção que possa se somar ou mesmo que seja melhor. O oposto também tem ocorrido, pois convidamos o governo a apresentar os projetos de infraestrutura para a cidade. Esse diálogo tem ocorrido. Isso é importante para que dinheiro público não seja gasto desnecessariamente. É o dinheiro do povo.