Rapidinhas: A novela enfadonha, o censor do parlamento e agradando o chefe

Davi Lemos

Novela
A definição do nome da oposição para disputar com o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), a cadeira no Thomé de Souza adquiriu tons novelescos que de alguns encerra a paciência e, em outros, alimenta certa descrença, principalmente quando se trabalha com a possibilidade de um único nome. “Todos querem ser [o nome] e ninguém quer abrir mão. É preciso uma voz de comando, que deveria ser a do governador Jerônimo”, cobrou um quadro do PT, em conversa com esta coluna. As reuniões do conselho de governo são pouco resolutivas e, segundo afirma, trazem maior sensação de que a situação está sendo “empurrada com a barriga”. Quem torce para que a novela tenha ainda muitos capítulos é Bruno.

Já ganhou?
Apesar da indefinição, a oposição em Salvador não conta com “já ganhou” para os governistas soteropolitanos. “Essa coisa de já ganhou a gente conhece desde 2006 e vimos muito bem ano passado. Para o nosso grupo não existe eleição perdida”, escreveu a deputada federal e presidente do PSB na Bahia, Lídice da Mata, no Instagram. A socialista se refere às vitórias do grupo nas disputas pelo Palácio de Ondina; entretanto a última candidatura de esquerda vitoriosa na capital foi a dela, nos anos 1990. De lá para cá, governos com sucessores do carlismo, com um intervalo de dois mandatos de João Henrique.

Tirou o time
Quem se afastou, segundo fonte do PT, desta discussão foi o ex-governador e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa. Após a desistência de Zé Trindade, presidente da Conder e filiado ao PSB, Rui parece ter perdido a disposição para defender um candidato ao mesmo tempo em que se vira com os problemas próprios de seu cargo ministerial. Na primeira vitória de Bruno Reis, em 2020, ficou na conta do petista o ônus da derrota por ter criado a candidatura da Major Denice. “Zé Trindade seria um problema duplo, pois não seria um nome do PT e também não contemplaria membros do PSB que desejariam um nome ‘orgânico'”, avaliou fonte do PT. Ou seja, a arrefecida de Rui termina sem uma dor de cabeça a menos na novela.

A vice
No lado governista soteropolitano, as discussões estão focadas na escolha da vice: será mantida a cota do PDT com Ana Paula Matos ou outras siglas poderão ocupar o posto e requerer, em 2028, a vez para disputar a cabeça de chapa? Republicanos e também o PSDB desejam aprofundar uma discussão. Nesta segunda-feira (16), o prefeito da capital salientou que a pedetista tem cumprido com louvor o seu papel e tem legitimidade para também pleitear a permanência na vice. Seria uma novelinha?

Non parlare
O líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia, Rosemberg Pinto (PT), certamente entrará para os anais da política baiana por afirmar que as sessões em que não há votações para nada servem. Pense num absurdo, na Bahia, infelizmente, há um precedente – poderia ser, pela enésima vez, assim repetido o adágio atribuído a Octavio Mangabeira. “Eu não tenho nenhum problema em dizer que as sessões que não têm votação, são sessões que não trazem absolutamente nenhum debate de conteúdo para a Casa e para sociedade. Em reforma de regimento, eu defenderia a inexistência dessas sessões”, disse o petista. O termo “parlamento” designa justamente “falar” e “discursar”, mas o líder do governo entende que a Casa deve servir somente para aprovar projetos, os mais importantes quase todos oriundos do Executivo.

Estranho no ninho
A nomeação do advogado Gesiel Ferreira Gomes como diretor do Detran em Teixeira de Freitas, por indicação do ex-deputado Uldurico JR (MDB), causou insatisfação no PT local. O advogado é considerado um bolsonarista ferrenho – ou nem tanto, já que aceitou trabalhar no governo petista – e agora ocupa o posto que era ocupado pela petista Lidiane Alves. Os diretórios do PT de Teixeira de Freitas, Lajedão, Medeiros Neto, Caravelas, Itanhém, Ibirapuã e Alcobaça redigiram um manifesto para cobrar providências ao Diretório Estadual da sigla contra a indicação de Gesiel, considerado “carlista” e “bolsonarista”. “Lutaremos bravamente até o último resquício de autoritarismo seja derrotado em definitivo”, diz a nota do PT contra a indicação do advogado para a coordenação do Detran na região.

Último reduto
Por falar em bolsonarismo, o presidente estadual do PL, João Roma, defendeu a necessidade de realizar alianças no campo da centro-direita para que as pretensões petistas de conquistar as maiores cidades baianas não sejam concretizadas. Na leitura do ex-ministro de Jair Bolsonaro, uma ampla vitória do petismo e partidos aliados na Bahia tornaria o estado no “último reduto” favorável ao presidente Lula, que teve na Bahia resultado crucial para derrotar o ex-presidente nas eleições de 2022. O PL já estruturou, nas contas de Roma, mais de 100 diretórios municipais e pretende fazer valer as somas altas de fundo eleitoral e de tempo de rádio e TV para conter os planos dos atuais ocupantes do Palácio de Ondina: perder as maiores cidades, na leitura do dirigente partidário, seria a “morte” da oposição em solo baiano.

Sonhando com Fatinha
A possibilidade de Ana Estela Haddad, esposa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), ser a vice do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo animou aqueles que defendem a repetição da moda em Salvador. No caso, para quem tem o sonho de ver a ex-primeira-dama Fátima Mendonça, mulher do senador Jaques Wagner (PT), como companheira em uma eventual chapa liderada na capital baiana pelo vice-governador Geraldo Júnior (MDB). Vale frisar que o emedebista é quem mais tem sonhado com essa hipótese.

Agradando o chefe
Aliás, o comentário na base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) é que se pesar no critério para a escolha do candidato da base à Prefeitura de Salvador a capacidade de agradar o chefe, o nome do vice Geraldo Júnior (MDB) já está sacramentado. A última do emedebista foi postar uma foto ao lado do petista no Dia dos Professores, no domingo (15). “Hoje, homenageamos não apenas os educadores, mas também o nosso governador Jerônimo Rodrigues, que, além de líder, é um professor comprometido”, escreveu.