sexta-feira, 25 de abril de 2025

Texto bíblico de 1,5 mil anos é revelado com luz ultravioleta e amplia compreensão sobre evangelho de Mateus

Foto: Reprodução/ Vatican Library

Da Redação

Um manuscrito datado do século VI contendo uma interpretação do capítulo 12 do Evangelho de Mateus foi descoberto em 2023 por meio do uso de luz ultravioleta. O texto estava oculto sob camadas de pergaminho reutilizado e foi identificado pelo pesquisador Grigory Kessel, da Academia Austríaca de Ciências. A descoberta foi publicada na revista científica New Testament Studies.

O fragmento integra uma tradução antiga em siríaco dos evangelhos cristãos, cuja existência era conhecida até então por apenas duas cópias. Uma delas está preservada na Biblioteca Britânica; a outra, no Mosteiro de Santa Catarina, no Egito. O novo exemplar foi encaminhado para a Biblioteca do Vaticano.

Durante a Antiguidade e a Idade Média, era comum que escribas raspassem textos de pergaminho para reaproveitar o material com novos conteúdos. Por isso, parte do conteúdo original acabava sendo apagado ou sobreposto por outras camadas de tinta. A tecnologia com luz ultravioleta permite recuperar inscrições invisíveis a olho nu, já que resíduos de tinta reagem à luz, emitindo tons azulados.

A passagem descoberta narra episódios da vida pública de Jesus, como o momento em que ele e seus discípulos colhem espigas de trigo em um sábado — ação criticada pelos fariseus por violar as regras de descanso sabático. Em resposta, Jesus afirma:

“Mas, se vós soubésseis o que isto significa: Eu quero misericórdia, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.” (Mateus 12:7)

O texto também aborda milagres realizados por Jesus durante o sábado e os debates com os fariseus sobre o significado das leis religiosas. Em outro trecho, ele defende sua autoridade espiritual:

“Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, então o reino de Deus é chegado a vós.” (Mateus 12:28)

Entre as passagens mais simbólicas está a referência ao “sinal do profeta Jonas”, interpretada como a primeira previsão direta da morte e ressurreição de Jesus:

“Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no coração da terra.” (Mateus 12:40)

A descoberta oferece novos elementos para o estudo da transmissão textual da Bíblia e reforça a importância dos palimpsestos como fontes históricas. Segundo especialistas, textos apagados como esse contribuem para mapear como os escritos cristãos foram copiados, adaptados e preservados ao longo dos séculos.

O capítulo termina com uma mensagem de Jesus sobre o vínculo espiritual com seus seguidores:

“Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está no céu, este é meu irmão, e irmã e mãe.” (Mateus 12:50)

Para estudiosos, o achado representa não apenas uma contribuição arqueológica, mas também um novo ponto de partida para investigações sobre as primeiras versões da tradição cristã.

07 de abril de 2025, 15:23

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