“Vivi muito bem no socialismo, mas, na prática, não funcionava”, diz Petkovic

O ex-jogador Dejan Petkovic relembrou a infância na antiga Iugoslávia socialista e se mostrou dividido antes do duelo Brasil x Sérvia pela Copa do Mundo, durante entrevista dada ao El País. Pet, como ficou conhecido desde os tempos na Bahia – os torcedores tinham dificuldade de pronunciar seu nome –, nasceu em uma pequena cidade da antiga República Socialista da Iugoslávia. Em 1992, seu país iniciou um processo separatista que, somente 14 anos mais tarde, resultaria na formação da atual República da Sérvia.
Antes do jogo entre Brasil e Sérvia, pela última rodada do grupo E na Copa do Mundo, ele disse que torcia para que suas “duas casas” saíssem felizes nesta quarta-feira, de preferência com um empate. Mas o Brasil venceu o adversário por 2 a 0.
Decepcionado com os rumos políticos da terra natal, Petkovic afirmou ao El País que não se esquece dos bons momentos de sua infância sob o regime socialista de Josip Tito – sem deixar de ser crítico às diferentes formas de governo experimentadas na região dos Balcãs.
Questionado quais são as lebranças que guarda da época que cresceu na antiga Iugoslávia socialista, Pet afirmou: “Eu vivi muito bem no socialismo, mas nem sabia o que isso significava. Era criança. A ideologia é fantástica, mas, na prática, não funcionava. Um exemplo… Tenho amigos que são trabalhadores, muito profissionais. Mas também tenho os que são “boleirões”, gostam de vida boa, não querem fazer nada. Imagine se esses amigos recebessem o mesmo que os trabalhadores dedicados? Isso desmotiva quem quer trabalhar. Mas tinha emprego pra todo mundo. Essa era a parte boa do regime socialista, algo que o governo realmente tem de fazer. Criar oportunidades de trabalho. Mas, como as empresas viviam de subsídio, não importava o resultado. A produtividade era baixa. Uma fábrica que poderia operar com 3.000 funcionários tinha 30.000. Como meu pai dizia: comia a si mesmo”.
Sobre a fase em que jogou no Vitória, na Bahia, o ex-jogador disse: “Me disseram que o Vitória era campeão, que o Bebeto jogava no clube. Quando cheguei, o Bebeto já não estava mais no time. Eu pensava que o time era campeão brasileiro, mas era só campeão baiano [risos]. Foi um choque de realidade. A diferença de estrutura entre os clubes era gritante. Não tinha nem água quente no vestiário. Mas imaginei que, se jogasse no Vitória, eu voltaria valorizado. Todo mundo que joga bem no Brasil vai para a Europa. Fui com o objetivo de voltar. Eu queria cumprir o desafio. E consegui. Joguei bem e voltei para a Europa”.