terça-feira, 30 de abril de 2024

Expansão da pecuária coincide com aumento de 187% do desmatamento na Amazônia Legal – por José Lopes

O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou neste sábado (18) dados alarmantes do aumento do desmatamento no mês de abril de 2015 nos nove estados que integram a Amazônia Legal e que, coincidentemente, vivem um “boom” na expansão da pecuária nas últimas décadas.

De acordo com o Imazon, de agosto de 2014 a abril de 2015, o desmatamento na região atingiu 1.898 quilômetros quadrados, o que corresponde a um aumento de 187% em relação ao período anterior – agosto de 2013 a abril de 2014 – quando a devastação atingiu 662 quilômetros quadrados.

Em termos relativos, houve aumento expressivo de 149% do desmatamento em Mato Grosso, com relação ao período de agosto de 2013 a junho de 2014. O Pará foi o segundo estado que mais desmatou nos onze meses (639 quilômetros quadrados), seguido por Rondônia (582 quilômetros quadrados – clique aqui para acessar o boletim do Imazon na íntegra).

Imazon mapa_sad_desmat_04_2015

Pode ser que a expansão da pecuária na região não seja a única responsável pela derrubada da floresta, mas não há dúvida de que a expansão da atividade nos últimos anos tem contribuído para esse resultado. Até porque é justamente entre os meses de abril e agosto que os grandes criadores de gado em confinamento do País realizam suas maiores compras de boi magro.

Profundo conhecedor do setor, o ex-ministro da Agricultura e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Rodolfo Rodrigues parecia prever o anúncio do aumento do desmatamento na Amazônia Legal quando escreveu a “vacina” em forma de artigo “Pecuária, ABC e COP 21”, publicado na revista Globo Rural nº 357, deste mês de julho.

Rodrigues começa o artigo citando uma pesquisa dos técnicos da Embrapa Judson Valentim e Carlos Maurício de Andrade com base em dados do Censo Agropecuário do IBGE, que revela um crescimento de 169% na área de pastagem na Amazônia Legal entre 1975 e 2006.

Nesse período, houve um crescimento de 20 milhões de hectares de pastagens para 55 milhões de hectares de pastagens com um rebanho que saltou de 7 milhões de cabeças para 59 milhões de cabeças, mas que em 2013 já respondia por 81 milhões de cabeças ou 38% do rebanho bovino brasileiro.

O que o ex-ministro quer destacar em seu artigo é o aumento significativo da lotação de cabeça por hectare nesse período – que passou de 0,3 cabeça/hectare em 1975 para 1,1 cabeça/hectare em 2006 – sem demandar mais desmatamento da Floresta Amazônica.

Segundo ele, com o uso das mais avançadas tecnologias do setor, é possível dobrar o atual rebanho da região “indo para 160 milhões de cabeças, sem derrubar uma única árvore” e se atingir uma média de 3 cabeças/hectare. É esta experiência que ele defende que o Brasil apresente na COP 21, conferência mundial sobre mudanças climáticas que acontecerá em Paris nos dias 7 e 8 de dezembro deste ano.

Outro levantamento que, infelizmente, relaciona a expansão da pecuária com o aumento da degradação vegetal e do solo no Brasil, foi divulgado há cerca de 10 dias pelo Rally da Pecuária 2015.

A equipe do Rally percorreu 11 estados brasileiros no primeiro semestre desta ano, que juntos respondem por 83% do rebanho brasileiro e constaram que entre 50% e 80% das pastagens em áreas dos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia apresentam sinais de degradação, sendo que apenas 4% estão efetivamente degradas (clique aqui para baixar os resultados do Rally 2015).

Os dados divulgados pelo Imazon, o estudo dos pesquisadores da Embrapa e o levantamento do Rally da Pecuária 2015 precisam ser cruzados com maior refinamento para que se consiga cada vez mais conciliar a preservação do meio ambiente com o aumento da produção da pecuária brasileira. Fica registrado aqui este alerta.

Eventos como o InterLeite Brasil 2015 e o Tecnocarne, que acontecerão no mês de agosto, podem contribuir para essa reflexão.

José Lopes é jornalista, diretor executivo do Toda Bahia e escreve sobre agronegócio aos domingos. E-mail: j.lopes@todabahia.com.br

19 de julho de 2015, 06:00

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