Ex-CEO da Americanas diz que empresa quer proteger trio de bilionários e culpar ex-diretores

Da Redação
O ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez afirma que os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que controlavam a empresa, participavam ativamente do cotidiano da companhia e que a atuação era ainda mais forte na área financeira, onde foi executada uma fraude de R$ 20 bilhões revelada neste ano.
Segundo a Folha de S. Paulo, as declarações foram dadas por meio de depoimento por escrito à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre a Americanas. É a primeira vez que um ex-executivo da empresa aponta publicamente para uma possível participação dos acionistas no escândalo.
No depoimento, Gutierrez afirma que a participação dos acionistas se dava por meio da presença dos controladores ou de pessoas ligadas a eles no conselho de administração ou no comitê financeiro; pela forte presença de membros desses órgãos no dia-a-dia da companhia, especialmente na área financeira; e por meio da holding dos bilionários, a LTS Investments.
Segundo ele, membros do conselho de administração, do comitê financeiro e do comitê de auditoria, além de funcionários da LTS, ainda que não tivessem cargos oficiais na companhia, conversavam de forma direta e frequente com o diretor financeiro da companhia.
Gutierrez diz ainda que durante todos os anos e em todos os cargos, sempre se reportou a Sicupira, que chama de principal acionista da companhia.
O ex-executivo afirma que em nenhum momento até seu último dia na empresa ouviu alguém falar em “inconsistências contábeis” ou “fraude” na empresa e que não tinha conhecimento de nada relacionado a isso.
Relata também que a partir de 2018 suas funções como CEO se transformaram para passar a ser um coordenador dos líderes das diferente linhas de negócio dentro da Americanas. Por isso, diz, a participação nas questões técnicas e operacionais reduziu-se bastante.
A partir de 2019, segundo Gutierrez foi iniciado pelos acionistas um processo de sucessão no comando da companhia que acentuou o distanciamento dele das atividades administrativas.
Gutierrez diz que a investigação feita pela companhia após a revelação da fraude foi nula e inexistente e resultou em acusações falsas contra ele. No depoimento, o ex-executivo afirma que o comitê independente não teve participação na acusação contra ele.
Segundo ele, ninguém da companhia o procurou para esclarecer qualquer fato. “Simplesmente fui surpreendido, com a acusação desferida naquela data, cujo conteúdo eu desconhecia e sobre a qual, repita-se, não tive nenhuma possibilidade de defesa”, afirma.
Gutierrez diz que a acusação foi feita com base em um relatório produzido por advogados da Americanas e que a empresa negou acesso a ele alegando que era uma propriedade da companhia. O ex-executivo afirma que o relatório que o acusou foi elaborado pelo mesmo escritório de advocacia que representa há décadas os controladores da companhia.
Ainda segundo a Folha de S. Paulo, um relatório da CPI foi apresentado pelo deputado Carlos Chiodini (MDB-SC) nesta semana afirmando não ter sido possível identificar os responsáveis pelas inconsistências de R$ 20 bilhões nas contas da empresa.
O texto redigido pelo parlamentar diz que não houve como determinar “de forma precisa, a autoria dos fatos identificados, nem imputar a respectiva responsabilidade criminal, civil ou administrativa a instituições ou pessoas determinadas.”