sábado, 5 de outubro de 2024

Aluna da Ufba é expulsa de Centro Acadêmico ao se recusar a utilizar linguagem neutra

Foto: Divulgação

Da Redação

Uma aluna do curso de Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia (Ufba) foi expulsa do Centro Acadêmico Unificado de Belas Artes (CAUEBA) ao se recusar a utilizar a linguagem neutra em um informativo.

De acordo com a MATRIA – Mulheres Associadas, Mães e Trabalhadoras do Brasil, a estudante Tatyana Mercês teria sido caluniada por outros alunos.

Ela diz que foi vítima de uma acusação “injusta” de transfobia por colegas de agremiação após se negar a utilizar a linguagem neutra em uma carta-convite para um evento realizado pelo Centro seguindo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Tatyana ocupava cargo de representação discente no Caueba como co-fundadora e participante do coletivo Canela Unificado (CaUni), organização composta por mais de 20 centros e diretórios acadêmicos, atléticas e ligas vinculadas à Ufba.

Ela foi eleita uma das diretoras do evento Canelada, criado para recepcionar os calouros de 2024, e ficou responsável por redigir a carta-convite aos centros e diretórios acadêmicos. A discussão começou após ela enviar o esboço do documento em um grupo fechado do Whatsapp, dedicado a organizar o evento para avaliação do texto.

Segundo Tatyana, um dos integrantes do grupo questionou a ausência da linguagem “inclusiva/neutra”. “Onde se escreve usando tod@s, todxs, todes, elu, dentre outras alterações descoordenadas de um padrão normativo”, detalhou Tatyana em entrevista ao Correio*.

A estudante argumentou que, por se tratar de um documento formal, a linguagem sugerida não cabia. “Trouxe outros pontos como o fato de ser questionável a inclusão, uma vez que dificulta o entendimento de todos, inclusive de PCDs [pessoas com deficiência] que precisam, por exemplo, de aparelhos eletrônicos para leitura. Também o fato de precisar haver consenso para que mudanças assim no idioma pudessem ser exigidas”, afirmou.

A MATRIA informou também que o nome de Tatyana “foi diretamente associado a comportamento criminoso em grupos de WhatsApp”.

“Ao acusar Tatyana de ‘transfobia’, estas organizações estudantis também sinalizam a quem porventura compartilhe da mesma opinião que qualquer divergência do paradigma de certos grupos intelectuais que dominaram a academia, a partir de conceitos importados de países do norte global, será punida, no mínimo, com ostracismo e destruição de reputação”, diz a carta da Associação.

A MATRIA diz ainda que há outros casos em universidades federais com perseguição a mulheres, sob a acusação caluniosa de “transfobia”. Nesse sentido, a associação criou um abaixo-assinado em defesa da estudante e completa:

“Opiniões como a manifestada por Tatyana não apenas estão protegidas pelo direito à livre manifestação de pensamento e pela autonomia e liberdade de cátedra como são compartilhadas por milhões de pessoas mundo afora. Não há consenso sobre o uso de linguagem neutra e nem lei que torne mandatória a sua utilização”, conclui a carta.

29 de junho de 2024, 09:34

Compartilhe: