BYD adota medidas em fábrica de Camaçari após denúncias de trabalho análogo à escravidão
Da Redação
Após denúncias que levaram ao resgate de 163 trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão, a montadora BYD anunciou uma série de mudanças na construção de sua fábrica em Camaçari, na Bahia. As medidas buscam atender às exigências do Ministério Público do Trabalho (MPT) e reparar as irregularidades que levaram ao embargo parcial das obras.
Entre as principais ações está a substituição da construtora chinesa Jinjiang, responsável por trazer os imigrantes asiáticos, por uma empreiteira brasileira. A BYD também se comprometeu a realizar uma auditoria interna independente para monitorar eventuais problemas.
Comitê
Para reforçar a fiscalização e a transparência, a empresa criou um comitê de compliance composto por representantes da BYD, especialistas em Direito do Trabalho, consultores de engenharia e uma terceira parte independente. O objetivo é garantir que as normas brasileiras sejam rigorosamente seguidas.
Além disso, medidas imediatas foram tomadas para melhorar as condições de trabalho. Uma delas foi a mudança no refeitório, que passou a ser compartilhado por todos os trabalhadores, após imagens divulgadas pela Agência Pública mostrarem os operários chineses comendo em baldes, em instalações precárias e insalubres.
Alojamento e retorno dos trabalhadores resgatados
Os 163 operários chineses resgatados em dezembro foram transferidos para um hotel na região metropolitana de Salvador, onde receberam atendimento para regularização de documentos, como a emissão de CPFs, e acesso a direitos trabalhistas e indenizações retroativas.
Segundo a BYD, todos já retornaram à China com passagens e ajuda de custo equivalente a US$ 120, além do pagamento das verbas rescisórias, que ficaram a cargo da Jinjiang.
Para os trabalhadores estrangeiros que permanecem na Bahia, a empresa informou que eles continuarão alojados em hotéis até que novas moradias sejam construídas. A montadora divulgou imagens dos futuros alojamentos, que incluem cômodos equipados com TV e ar-condicionado, seguindo os padrões exigidos pela legislação brasileira.
Investigação e impacto
As denúncias vieram à tona após uma força-tarefa realizada em 23 de dezembro de 2024, envolvendo o Ministério Público, o Ministério do Trabalho, a Defensoria Pública e as Polícias Federal e Rodoviária. Os agentes encontraram trabalhadores vivendo em condições degradantes no canteiro de obras onde será erguida a maior fábrica da montadora nas Américas.
O caso repercutiu nacionalmente e levantou questionamentos sobre o cumprimento de normas trabalhistas em projetos envolvendo grandes empresas internacionais no Brasil. A BYD reforçou, em nota, seu compromisso em corrigir as irregularidades e garantir condições dignas a todos os trabalhadores envolvidos em suas operações no país.