Painel da ANS: Planos de saúde dobram lucro no 1º trimestre e têm maioria de processos por descumprimento de contrato
Da Redação
As operadoras de planos de saúde dobraram seus lucros no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo dados divulgados nesta terça-feira (3) pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o setor registrou lucro líquido de R$ 6,9 bilhões, frente aos R$ 3,1 bilhões obtidos nos três primeiros meses de 2024. O resultado operacional, que desconsidera ganhos financeiros, também teve alta expressiva: de R$ 1,87 bilhão para R$ 4,4 bilhões.
Somando-se os lucros das operadoras de planos odontológicos e das administradoras de benefícios, o setor totalizou R$ 7,1 bilhões no período. Os números estão no Painel Econômico-Financeiro da Saúde Suplementar, ferramenta da ANS que reúne dados enviados pelas próprias empresas.
Os resultados contrastam com o discurso reiterado pelas operadoras de que o setor vive uma crise. “Tudo está melhorando, resultado operacional, financeiro, lucro líquido. Os dados não apontam nenhuma crise setorial, é lógico que há empresas com problemas, mas esse percentual está caindo”, afirmou Jorge Aquino, diretor de normas e habilitação de operadoras da ANS. Ele destaca que, atualmente, o setor dispõe de R$ 128 bilhões em caixa — sendo metade desses recursos livres de exigência da agência.
Pela primeira vez, a ANS também divulgou dados detalhados sobre os custos judiciais das operadoras. Em 12 meses encerrados em março, os gastos com ações judiciais somaram R$ 3,8 bilhões, o equivalente a 1,23% da receita obtida com mensalidades. Desse total, 62,4% das ações têm como causa o descumprimento de cláusulas contratuais por parte dos planos.
O dado reforça críticas de entidades como a Comissão de Direito Médico e de Saúde da OAB de São Paulo, que na segunda-feira (2) publicou nota denunciando o “descumprimento sistemático” de decisões judiciais pelas operadoras.
Para Jorge Aquino, embora seja possível cogitar que o aumento das ações judiciais e das reclamações à ANS reflita uma tentativa das empresas de restringir acesso a procedimentos e, com isso, melhorar resultados, o problema estaria mais ligado a falhas de gestão. “Pode-se incorrer em injustiça. Não acredito que as empresas estejam deliberadamente negando procedimentos previstos em contrato. Mas há problema de gestão, com certeza.”
A sinistralidade — indicador que mede a proporção entre os gastos assistenciais e a receita — caiu, retornando a níveis pré-pandemia. Entre as grandes operadoras, o índice ficou em 74,4%. Já nos planos de autogestão, que não têm fins lucrativos e atendem funcionários de empresas, o percentual foi de 93,3%, o pior do setor. O envelhecimento da clientela é apontado como a principal causa.








