sábado, 7 de junho de 2025

Game Over: política, vaidade e o fim das parcerias improváveis

Foto: Reprodução

Alexandre Reis

A tensão entre Donald Trump e Elon Musk atingiu novo ápice esta semana, com ofensas públicas trocadas nas redes. Trump chamou Musk de “louco” e afirmou não ter interesse em conversar com o bilionário, enquanto o empresário sugeriu que o presidente norte-americano deveria sofrer impeachment e vinculou-o às investigações sobre Jeffrey Epstein (empreendedor acusado de comandar uma rede internacional de exploração sexual de menores). Esse rompimento marca o desfecho de uma aliança turbulenta entre líderes influentes no cenário político e econômico mundial — um padrão bastante comum na história, inclusive no Brasil.

Nos Estados Unidos, já não é novidade ver presidentes romper com assessores ou aliados que se tornam incômodos. Na administração Trump, ele demitiu o próprio diretor do FBI, James Comey, em 2017, após críticas e investigações. Mais à frente, sua relação com o advogado pessoal Michael Cohen afundou quando Cohen passou a colaborar com o inquérito Mueller. Já sob Barack Obama, o assessor Valerie Jarrett foi chamado de “a primeira-ministra não oficial” e, posteriormente, sua influência diminuiu. Disputas internas como essas costumam ser mediadas por visões conflitantes de poder, lealdade e imagem pública.

No Brasil, o fenômeno também é recorrente. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve uma relação controversa com Antonio Palocci, ministro da Fazenda em 2003, que se desfez em 2006 após denúncias de enriquecimento ilícito. No governo Dilma Rousseff (PT), a queda de Palocci deu início à fase mais crítica da era petista. Já Michel Temer (MDB) sofreu reveses com o então senador Romero Jucá e seu projeto de “pacto” com a Lava Jato, resultando em sua demissão e crise institucional. Mais recentemente, Jair Bolsonaro (PL) rompeu com Sergio Moro (União-PR), hoje senador, após acusações de interferência política na Polícia Federal, o que resultou na saída de do ex-juiz do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Esses embates expõem uma dinâmica essencial da política: conselheiros e assessores podem ser valiosos quando auxiliam a construir, mas também se tornam ameaças à estabilidade ao acumular poder ou divergirem. São conflitos de imagem, ideologia e sobrevivência no poder, que frequentemente viram caça às bruxas e motivam demissões públicas.

No caso Trump-Musk, a briga teve também fins econômicos e tecnológicos. Musk criticou o “One Big Beautiful Bill” de Trump, afirmando que prejudica as contas públicas, enquanto o presidente ameaçou cortar contratos com Tesla e SpaceX. Como em solo nacional, quando aliados se tornam adversários, o Brasil passou por rupturas semelhantes. A saída de Moro fez estremecer os já frágeis alicerces do governo Bolsonaro. Já Lula, ao contornar pressões, manteve-se firme, embora não imune a disputas internas e crises de confiança.

Nessas histórias, sempre há o ponto central: a lealdade é importante, mas não pode se sobrepor ao controle. O poder se mostra instável quando amantes da intimidade de gabinete compõem os extremos do jogo político. Seja para manter contratos estaduais ou mercados globais, é só questão de tempo até a proximidade se tornar ameaça — e então, a demissão entra em cena.

O choque entre Trump e Musk é mais um capítulo desse drama atemporal, onde se faz política com contratos, reputações e cobiça. E espera-se que, ao cabo, os sobreviventes reajam: Busquem novos líderes, criando outra vez alianças crescentes — até que também se partam.

06 de junho de 2025, 13:21

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