Prêmio Maria Felipa emociona com homenagens a mulheres negras referências na luta e resistência

Da redação
A noite desta sexta-feira (25) foi marcada por emoção, reconhecimento e afirmação da resistência negra. Realizada no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador, a 16ª edição do Prêmio Maria Felipa homenageou 26 mulheres negras que se destacam em diferentes áreas — da política à saúde, da segurança pública ao empreendedorismo e na luta contra o racismo.
A solenidade, conduzida pela vereadora Ireuda Silva (Republicanos), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice da Comissão de Reparação, integra as comemorações do Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha e do Dia Nacional da Mulher Negra. Criado para valorizar trajetórias inspiradoras e reafirmar a luta antirracista, o prêmio leva o nome de uma das maiores heroínas da história brasileira: Maria Felipa de Oliveira, mulher negra, marisqueira e pescadora que, em 1823, liderou centenas de combatentes — entre elas mulheres negras e indígenas — contra tropas portuguesas na Ilha de Itaparica, contribuindo decisivamente para a independência da Bahia.
Neste ano, a lista de homenageadas incluiu mulheres de diversas gerações, profissões e histórias de vida. Foram reconhecidas figuras como a vereadora Eliete Paraguassu, a jornalista Priscilla Pires (TV Aratu), a tenente-coronel Lutiane Ferreira (Bombeiros), a psicóloga Dalila Garcez, a empresária Andrea Nascimento (Solar Gastronomia), entre outras mulheres negras que enfrentam cotidianamente o racismo, o machismo e o apagamento histórico.
Durante a cerimônia, os discursos foram tomados pela emoção e pelas memórias de superação. As homenageadas destacaram a importância do reconhecimento público, da representatividade e da ancestralidade como fonte de força. Algumas compartilharam relatos pessoais de violência, discriminação e desafios estruturais, mas também de vitória, fé e resiliência.
Em sua fala, a vereadora Ireuda Silva destacou o simbolismo do momento e a responsabilidade histórica que ele carrega: “Como referência, nós temos uma mulher. Uma mulher que lutou, uma mulher que nos inspirou. E eu levo esse legado com muita autonomia, por ser uma mulher preta invisibilizada há muito tempo atrás. E eu quero fazer sempre ao contrário do que nos fazem. Hoje aqui nós temos 25 mulheres, referências, mulheres que mostram para que vieram. São mulheres pretas, capacitadas, mulheres honradas, que não são visíveis para a sociedade. Mas nós estamos aqui hoje para mostrar o que representa ser uma mulher preta.”
Ireuda também relembrou que Maria Felipa não empunhou armas tradicionais, mas utilizou sua inteligência estratégica e poder de articulação para enfrentar um sistema opressor e libertar um povo inteiro.
“Ela não precisou usar farda, não precisou utilizar da espada. Usou de inteligência e libertou a Bahia, onde hoje pretos e brancos usufruem da liberdade. Isso é louvável. Esse legado, a gente carrega no sangue e na veia. Cada mulher baiana sente essa força quando lê a história de Maria Felipa. Ela nos empodera, nos encoraja, nos orienta”, disse
O Prêmio Maria Felipa já homenageou, ao longo de seus 16 anos, nomes como a ministra da Cultura Margareth Menezes, a embaixadora de Gana no Brasil Abena Busia e a ativista Kenia Maria, defensora dos direitos das mulheres negras na ONU. A cada edição, o prêmio se consolida como um espaço de visibilidade e valorização das potências negras femininas da Bahia e do Brasil, combatendo o apagamento e reafirmando a centralidade da mulher negra como protagonista histórica.