Exclusivo: Uma masterclass com Renato Lyra sobre os vinhos argentinos autorais da Bodega Susana Balbo

por José Falcón Lopes
Um dos mais experientes educadores de vinhos em atividade na Bahia, Renato Lyra (WSET 3) apresentou nesta quinta-feira (18/09) uma masterclass sobre os vinhos argentinos autorais produzidos pela Bodega Susana Balbo, casa que tem a responsabilidade de carregar o nome da primeira enóloga portenha.
A masterclass apresentada por Renato Lyra fez parte do Winter Total Fest, um festival de vinhos, com duração de dez dias (de 11 a 21 de setembro), aberto aos clientes do Total Atacado, em Lauro de Freitas. A apresentação contou com o patrocínio da Importadora Cantu Grupo Wine, empresa responsável pela distribuição de mais de 40 produtores de vinhos de 13 países em todo o território brasileiro.
Neste bate-papo exclusivo com a Coluna VinhosBahia, Renato Lyra, que também é professor de Matemática e diretor de Relações Institucionais da Enobahia, a mais tradicional confraria do estado, explicou a importância de eventos de educação de vinhos acessíveis para o crescimento do mercado consumidor baiano. Boa leitura.
Coluna VinhosBahia: Porque realizar uma masterclass sobre os vinhos argentinos da Bodega Susana Balbo?
Renato Lyra: O paladar do consumidor brasileiro para vinhos tem sido formado basicamente com produtos do Chile, Argentina e Portugal, países que lideram o nosso mercado. O grande problema do vinho argentino, na minha opinião, é o chamado “vinho de repetição”: baixa acidez, muita barrica e uma nota só, um vinho monoaromático e de monosabor. A importância dessa masterclass com Susana Balbo se deve ao fato dela produzir vinhos argentinos diferentes. Ela possui vinhedos de altitude em Luján de Cuyo e no Valle del Uco, ambos na região de Mendoza, que entregam uma uva Malbec diferente e Susana é uma enóloga perfeccionista, acompanha os seus vinhos de perto. Com isso, ela entrega nas suas linhas de vinhos a sua personalidade: a Crios é em homenagem aos seus filhos; a Signature é a linha autoral assinada por ela.
Na verdade, todos os vinhos levam a assinatura da enóloga: quando ela decide fazer um vinho só frutado ao vinificar a uva Torrontés sem barrica, quando ela decide usar barrica, quando ela decide usar ânforas de terracota, então você diversifica e sai do vinho monoaromático, do vinho monosabor de uma nota só.
Então, a importância vem do fato da Argentina ser um país cujos vinhos o consumidor brasileiro está acostumado a provar, mas Susana Balbo alia sua qualidade a uma grande diversidade nos seus produtos.
Coluna VinhosBahia: Quais seriam as principais características do terroir de Mendoza?
Renato Lyra: A maior produção vitivinícola da Argentina está em Mendoza, que possui também terroir de altitude, plantado no sopé dos Andes. Um Malbec de uma região mais alta é mais fresco e pode ser equivalente a um Malbec do sul do país, na Patagônia, por exemplo, que é muito fria e também tem um Malbec mais fresco. Já nos arredores da cidade de Mendoza, o clima é semidesértico, é muito quente durante o dia. Aí o Malbec tem mais sabor de fruta sobremadura, provavelmente vai se fazer um vinho mais extraído. Então, dentro de Mendoza você tem muitos terroirs, muitos microclimas. Lembrando que terroir não é só o clima. É também a tecnologia que você utiliza, tem também a decisão enológica. Então o terroir engloba clima, solo, a casta e também a decisão humana.
Coluna VinhosBahia: Você pode comentar rapidamente os vinhos da Susana Balbo que foram degustados na sua masterclass?
Renato Lyra: Degustamos dois vinhos da linha Crios – um branco Torrontés e um tinto Cabernet Sauvignon -, que ela fez em homenagem aos filhos, e o terceiro vinho foi mais autoral da linha Signature, um Malbec de altitude do Valle del Uco.
Os vinhos brancos são geralmente mais gastronômicos. E a Torrontés é a segunda uva mais plantada da Argentina para vinhos brancos, é uma uva muito aromática. A branca mais plantada por lá é a Pedro Gimenez. O vinho branco Torrontés, em geral, não passa em barrica para não descaracterizar a fruta, o floral. Sua intensidade impacta no nariz, tem um aroma muito pronunciado. Ele parado na taça, o aroma chega ao nariz.
Já a Cabernet Sauvignon é uma uva tinta muito cultivada na Argentina e em todo o mundo. Ela participa, inclusive, em parcelas majoritárias do corte bordalês da margem esquerda.
Por último, o Malbec de altitude da linha Signature tem um tratamento muito interessante nesse equilíbrio entre fruta, acidez e barrica. Você tem um vinho típico de Malbec com aquela ameixa, com fruta mais extraída tendendo para uma fruta preta, mas com muito frescor, muita acidez. Isso torna ele muito mais gastronômico do que alguns vinhos tintos mais pesados. É um Malbec muito bem trabalhado.
Coluna VinhosBahia: Qual a importância de eventos de educação em vinhos como a sua masterclass?
Renato Lyra: Este tipo de evento é muito importante por aproximar o público baiano do vinho, que ainda é uma bebida distante da maioria das pessoas. Se criou uma atmosfera de distanciamento e, com essas masterclasses nós aproximamos o consumidor da bebida que ele está procurando ou quer conhecer. Se o cliente prefere um vinho doce ou um vinho seco, com mais ou com menos acidez, ele precisa entender as características do produto que vai comprar. O mérito por essa ação vai para o Total Atacado, que promoveu masterclasses com o patrocínio da Cantu Grupo Wine.

Renato Lyra, Sofia Portella, do marketing do Total Atacado, Neyde Rodrigues da Adega do Total Atacado e Murilo Mota da Cantu Grupo Wine
#José Falcón Lopes é hispano-brasileiro, jornalista formado na Facom-UFBA e autor da Coluna VinhosBahia.
E-mail: colunavinhosbahia@gmail.com
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