Saúde mental dos caminhoneiros: jornadas exaustivas e solidão transformam profissão em risco

Da Redação
Jornadas de trabalho que chegam a 16 horas, prazos apertados, pressão financeira e longos períodos longe da família. Essa é a rotina de milhares de caminhoneiros no Brasil, marcada por estresse e adoecimento.
A solidão é uma das principais queixas. O procurador do Trabalho da 24ª Região, Paulo Douglas de Moraes, afirma que a saúde mental já é reconhecida como um problema estrutural da logística rodoviária. O fenômeno tem até nome: “apagão de motoristas”, reflexo do envelhecimento da categoria — cuja média de idade é de 46 anos — e da falta de interesse de jovens pela profissão.
Segundo o MPT, 56% dos caminhoneiros trabalham entre nove e 16 horas por dia e quase 25% ultrapassam 13 horas diárias. Além disso, 43,7% não conseguem descansar oito horas entre jornadas, contrariando a lei que prevê 11 horas de repouso a cada 24 horas.
Outro levantamento mostra que 27% dos motoristas usam drogas para suportar longas viagens, muitas vezes recorrendo a rebites e cocaína para permanecer acordados.
Estradas sem apoio e riscos constantes
Além da sobrecarga, a falta de infraestrutura agrava o quadro. O coordenador-geral de Segurança Viária da PRF, Jefferson Almeida, confirma que a fiscalização encontra grande consumo de inibidores de sono. Já Alan Medeiros, da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), defende mais pontos de parada seguros nas rodovias.
Vulnerabilidade emocional
Estudos comprovam os efeitos na saúde mental. A psicóloga Michelle Engers Taube, doutora pela Unisinos, identificou que jornadas acima de 12 horas triplicam a chance de desenvolver transtornos como ansiedade, depressão e estresse.
Segundo a plataforma Moodar, um em cada cinco profissionais de frotas apresenta algum nível de vulnerabilidade emocional. Para o psiquiatra Alcides Trentin Junior, da Abramet, é fundamental que caminhoneiros sejam monitorados regularmente.
“Ansiedade e depressão aumentam o risco de acidentes nas estradas. Dirigir tantas horas sob pressão é uma atividade penosa.”
Nova norma de saúde e segurança
A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), atualizada em maio, determina que empresas garantam não apenas segurança física, mas também um ambiente psicologicamente saudável. A neurocientista Barbara Lippi, da Moodar, explica:
“Agora as empresas precisam identificar riscos psicossociais que podem levar ao adoecimento coletivo, como estresse e fadiga.”
O procurador Paulo Douglas ressalta que o transporte rodoviário é prioridade para o Ministério Público do Trabalho por ser a atividade com mais acidentes fatais no Brasil.
Com informações da Agência Brasil.