Expansão acelerada de cursos de Medicina no Brasil acende alerta sobre qualidade da formação
Da Redação
Em menos de dois anos, o Ministério da Educação (MEC) autorizou a criação de 77 novos cursos de Medicina em todo o país, que juntos ofertam 4.412 vagas de graduação, segundo estudo inédito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) divulgado em reportagem da Folha de S. Paulo. A Bahia, o Pará e São Paulo lideram a lista, com oito novos cursos cada. Em seguida, vêm o Ceará e o Maranhão, com sete cursos por estado.
No mesmo período, 20 cursos já existentes receberam autorização do MEC para ampliar o número de vagas, somando 1.049 novas oportunidades. Ao todo, entre janeiro de 2024 e setembro de 2025, o país registrou 5.461 vagas adicionais em Medicina.
Com o avanço, o Brasil alcançou a marca de 494 cursos de Medicina, sendo 80% deles em instituições privadas, totalizando 50.974 vagas. O número coloca o país como o segundo do mundo com mais escolas médicas, atrás apenas da Índia, que possui cerca de 600 — embora tenha uma população sete vezes maior.
Os dados foram obtidos pelo grupo de pesquisa Demografia Médica no Brasil, da FMUSP, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Parte das autorizações não constava no cadastro público do MEC (e-MEC).
Desde o programa Mais Médicos, lançado em 2013, o número de vagas dobrou — de 23 mil para mais de 50 mil em 2025. A projeção é que, até 2030, o país tenha 1,2 milhão de médicos, o equivalente a 5,3 por mil habitantes, quase o dobro da taxa atual (2,98).
O MEC informou que, desde 2013, a criação de novos cursos de Medicina está condicionada à aprovação em chamamentos públicos, realizados em parceria com o Ministério da Saúde, com base em critérios como necessidade regional e capacidade de instalação.
Apesar da moratória decretada em 2018, o ministério reconhece que houve forte crescimento entre 2017 e 2022, com mais de 20 mil novas vagas criadas. De 2023 a 2025, as autorizações teriam ocorrido em “estrito cumprimento de decisões judiciais”.
A pasta afirma ainda que vem adotando medidas para assegurar a qualidade da formação médica, incluindo a criação do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed), que será aplicado anualmente a partir deste ano. Também estão previstas visitas in loco em 2026 e a atualização das diretrizes curriculares nacionais.
Entre as medidas cautelares previstas estão: impedimento de ampliação de vagas, suspensão de contratos do Fies e Prouni, e até redução do número de estudantes ingressantes em cursos mal avaliados.
De acordo com o levantamento, o Nordeste concentra 29 dos novos cursos, o equivalente a 37,7% do total. O Sudeste aparece com 19 (24,7%), seguido pelo Norte (13), Sul (12) e Centro-Oeste (4).
Municípios fora das capitais também têm se destacado: Vitória da Conquista e Luís Eduardo Magalhães (BA), Sobral e Tianguá (CE), Cariacica e São Mateus (ES) e Ariquemes (RO) receberam autorização para abrir dois cursos cada.
O preço médio das mensalidades em faculdades de Medicina é de R$ 10,2 mil, podendo variar entre R$ 5,1 mil e R$ 15,7 mil.








