Chacinas crescem 58% em Salvador e RMS, e 70% das mortes têm participação policial
Da Redação
Ao longo dos últimos três anos, 454 pessoas foram mortas em 124 chacinas registradas em Salvador e Região Metropolitana. Desse total, 85 chacinas foram atribuídas a ações de agentes de segurança pública, resultando na morte de 324 pessoas, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado.
Somente entre janeiro e 17 de outubro deste ano, 109 pessoas morreram em chacinas na capital e em cidades vizinhas — um aumento de 58% em relação ao mesmo período do ano anterior. A letalidade policial teve crescimento ainda mais expressivo: foram 85 vítimas, alta de 112% em um ano.
Para Samuel Vida, coordenador do Programa Direito e Relações Raciais da Ufba, os números revelam uma “espiral ascendente” de violência decorrente de uma política de segurança centrada no confronto. Em entrevista ao Correio, ele afirmou que essa orientação se traduz na resistência ao uso de câmeras corporais, na limitação à investigação de mortes provocadas por operações policiais — vigente por quase quatro anos — e na expansão de unidades de atuação considerada de “alta letalidade”, como as Rondesp.
Essas unidades, segundo o Fogo Cruzado, concentram metade das mortes registradas em chacinas provocadas por forças policiais. Os bairros com maior incidência são Fazenda Coutos, Curuzu, Rio Sena, Fazenda Grande do Retiro e Federação. Camaçari, Lauro de Freitas e Dias D’Ávila também aparecem no levantamento.
As chacinas cometidas por grupos criminosos, por sua vez, estão associadas principalmente à disputa territorial entre facções. Pesquisadores apontam que o avanço dessas mortes também está ligado à baixa capacidade investigativa do Estado — a Bahia tem uma das menores taxas de solução de homicídios do país — e à ausência de políticas sociais sustentáveis nas áreas mais vulneráveis.
Frente à escalada da violência, o governo do estado tem anunciado novas medidas de reforço policial, como a convocação de novos agentes e operações de enfrentamento ao crime organizado, a exemplo da Operação Freedom, deflagrada nesta terça-feira (4). O governador Jerônimo Rodrigues reconheceu que o impacto das ações recai de forma mais dura sobre a juventude negra das periferias e afirmou que pretende ampliar o uso de câmeras corporais e reduzir a letalidade.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) foi procurada para comentar o levantamento e detalhar ações de prevenção a novas chacinas, mas não respondeu até o fechamento deste texto.








