Atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA isola deputado e dificulta reabilitação política

Da Redação
Apesar de ter comemorado as sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos ao ministro Alexandre de Moraes (STF), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) enfrenta resistência para se reabilitar politicamente no Brasil. A informação é da Folha de S.Paulo, com base em relatos de aliados do centrão e da direita bolsonarista.
De acordo com a reportagem, Eduardo passou as últimas semanas intensificando ataques, inclusive contra aliados próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Romeu Zema (Novo). A postura mais radicalizada tem provocado isolamento dentro da própria base conservadora.
Ao celebrar a aplicação de sanções financeiras contra Moraes por meio da chamada Lei Magnitsky, Eduardo declarou que “temos várias batalhas adiante” e que essa vitória “não é o fim de nada”. Ele sugeriu ainda que outros ministros do Supremo e seus familiares devem ser alvos de novas medidas.
Mesmo com o gesto simbólico dos EUA, interlocutores ouvidos pela Folha avaliam que o deputado adota posições difíceis de sustentar diante do eleitorado não radicalizado. A situação se agravou com a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros — uma medida assinada pelo ex-presidente Donald Trump na quarta-feira (30), que causou desgaste político mesmo entre bolsonaristas.
Aliados dividem-se entre os que veem o “tarifaço” como irreversível e os que aguardam novos desdobramentos das sanções para emitir um juízo definitivo. Nas redes sociais, Eduardo alegou ter atuado para “direcionar melhor” as medidas, buscando preservar o setor produtivo brasileiro.
Segundo a Folha de S.Paulo, críticas ao deputado são feitas com cautela. De um lado, há reconhecimento de sua atuação contra Moraes, figura central de oposição ao bolsonarismo. De outro, cresce a percepção de que sua postura tem sido excessivamente conflituosa. Um interlocutor próximo a Jair Bolsonaro afirmou que a forma como Eduardo vem conduzindo sua atuação internacional “divide o campo político e favorece o governo Lula (PT)”.
A reportagem também revela que, antes mesmo do anúncio das tarifas, havia desconforto entre Jair e Eduardo Bolsonaro. Coube ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tentar intermediar e apaziguar os ânimos. Jair Bolsonaro, que inicialmente se opunha à permanência do filho nos EUA, passou a defendê-lo, mas voltou a falar em “imaturidade” ao se referir ao deputado — termo que tem sido resgatado por aliados críticos à sua atuação.
Eduardo Bolsonaro também tem feito críticas públicas a outras figuras da direita, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), e buscado boicotar agendas de parlamentares em Washington, incluindo ex-integrantes do governo Bolsonaro, como a senadora Tereza Cristina (PP-MS).
Ainda de acordo com a Folha, assessores próximos ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, consideram inadequadas as declarações do deputado desde a imposição das tarifas, especialmente um vídeo em que ele convida empresários brasileiros a migrarem para os EUA: “Se você, empresário brasileiro, quiser investir aqui nos Estados Unidos, é só vir para cá que, em semanas, a gente coloca seu processo adiante”, disse Eduardo.
Nos bastidores, avalia-se que seu retorno político ao Brasil dependeria de dois fatores considerados improváveis: uma eventual anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Eduardo já foi apontado como um dos principais nomes para representar o grupo bolsonarista nas eleições de 2026, diante da inelegibilidade do pai.