quinta-feira, 25 de abril de 2024

Entrevista: Leão “ligeireza” diz que candidatura ao governo está “decididíssima” e elogia Lula e Bolsonaro

Foto: Divulgação

Alexandre Reis

Vice-governador da Bahia pela segunda vez e secretário estadual de Planejamento, João Leão garante que em 2022 não quer mais ser coadjuvante no processo eleitoral. Ele diz que a candidatura ao Palácio de Ondina é algo sacramentado. Leão afirma que se for para reeditar a aliança com o PT do governador Rui Costa e do senador Jaques Wagner tem que ser com ele na cabeça de chapa. Nem ser governador “tampão” satisfaria o “ligeireza”, como o vice-governador se autodenomina, numa espécie de contraponto ao “correria”, slogan adotado por Rui Costa. Nesta entrevista exclusiva ao Toda Bahia, o presidente estadual do PP fala ainda sobre a sucessão presidencial e faz elogios tanto ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quanto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de destacar projetos em andamento na secretaria. Confira!

Toda Bahia – A sua candidatura ao governo da Bahia já é algo decidido? 
João Leão – Decididíssimo. É correr atrás agora, e lutar, e partir para ganhar no primeiro turno. Não quero ganhar no segundo turno não, quero ganhar no primeiro turno.

TB – Não tem mais possibilidade de acordo com o PT? 
Leão – Tem diálogo total. Já apoiei Wagner para o governo no passado, já apoiei meu amigo Rui Costa e apoiei Otto Alencar (senador pelo PSD) para o Senado. Mas agora chegou a minha vez.

TB – Então o senhor está dizendo que não abre mão da cabeça de chapa? 
Leão – O PP quer a cabeça de chapa. Nós queremos a cabeça de chapa porque acho que está na nossa hora. Precisamos fazer um rodízio nessa história toda.

TB – Há um cansaço do grupo em relação ao PT, que está há quase 16 anos na cabeça de chapa e no Palácio de Ondina?
Leão – Não é problema de cansaço, é de companheirismo. Você quando quer apoio, você também deve estar disposto a apoiar. Eu já apoiei uma vez, duas vezes, três vezes… Agora chegou a hora de pedir o apoio dos companheiros.

“A aliança pode ser reeditada.
Não vejo problema nenhum em reeditar a aliança.
Agora, com o PP na cabeça de chapa.”

TB – Então a aliança entre PP, PT e PSD pode estar ameaçada e não ser reeditada em 2022, já que os petistas querem o senador Jaques Wagner na cabeça de chapa, e o senador Otto Alencar tem dado demonstrações de que o projeto dele é disputar a reeleição dentro do mesmo grupo. 
Leão – Existe a possibilidade. A aliança pode ser reeditada. Não vejo problema nenhum em reeditar a aliança. Agora, com o PP na cabeça de chapa.

TB – E se Rui Costa topar disputar o Senado ano que vem? O PP poderia abrir mão de lançar o senhor candidato se o senhor assumisse o governo por oito meses, como já foi cogitado por seu filho, o deputado federal Cacá Leão? 
Leão – Eu posso assumir o governo do estado ano que vem e ser candidato à reeleição. Não há problema nenhum nisso, está dentro da lei (eleitoral).

TB – Essa insistência do senhor em ser candidato a governador pode provocar uma saída do PP da base de Rui Costa antes das eleições?
Leão – Acho muito difícil, porque eu tenho certeza que meu amigo Wagner, meu amigo Rui Costa e meu amigo Otto vão entender isso.

TB – Entender até quando? Qual seria o prazo para o PP deixar o governo? 
Leão – Temos o prazo das convenções, até o ano que vem. Não tem sangria desatada, não. Lá para março do próximo ano.

TB – Em visita recente à Bahia, o ex-presidente Lula discursou na Assembleia Legislativa e disse que o candidato dele ao governo é Wagner, e para o Senado é Otto. Como o senhor assimilou isso? 
Leão – Rapaz, é aquela velha história: eu não estava presente. Aí, quando eu estava presente, Lula disse que o candidato pode ser eu, Wagner ou Otto. Entendeu? Quando você está ausente, as pessoas julgam da melhor maneira que acham. Lula disse que pode ser Leão, Wagner ou Otto na frente dos presidentes de partidos.

“Tenho por Lula um carinho grande.
Também não sou brigado com Bolsonaro, não.
Bolsonaro foi meu companheiro de partido por 20 anos.”

TB – O PP da Bahia vai apoiar a candidatura de Lula à Presidência, mesmo se o senhor for candidato a governador de forma independente, sem compor com Rui Costa ou Wagner? 
Leão – Temos essa intenção. Tenho todo interesse nisso. Tenho por Lula um carinho grande. Também não sou brigado com Bolsonaro, não. Bolsonaro foi meu companheiro de partido por 20 anos. O que eu quero é que, seja quem for o presidente da República, eu tenha um bom relacionamento. Quero é botar a Bahia para frente. Quero fazer grandes obras, como a ponte Salvador-Itaparica, que estamos lançando. Além disso, iniciamos vários estudos na secretaria para obras de infraestrutura importante, como a duplicação da ponte de Itaparica até Nazaré.

TB – Hoje, o PP, que o senhor preside na Bahia, faz parte da base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O partido do senhor deve, inclusive, apoiar a candidatura à reeleição de Bolsonaro. Apoiar Lula aqui no estado não pode criar problemas nacionais para o partido?
Leão – Nós somos independentes na Bahia. O partido aqui vai seguir o nosso grupo. Quando digo nosso grupo, estou falando dos deputados federais Cacá Leão, Ronaldo Carletto, Cláudio Cajado, Mário Negromonte Júnior, e todos os estaduais, nas figuras de Antonio Henrique Júnior, Eduardo Sales, Nelson Leal. Vamos discutir, conversar e tomar o nosso caminho.

TB – Já que o partido é independente, existe possibilidade de diálogo com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) e com o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), que também pretendem concorrer ao governo da Bahia em 2022?
Leão – O PP é independente e pode ter diálogo com qualquer um, meu filho. A independência nossa faz com que isso aconteça. Agora, nosso interesse é nos mantermos ao lado de nosso grupo político, que é o PT, o PSD, o PSB, o PCdoB, os partidos com quem estamos vivendo, com quem estamos casados há 14 anos.

TB – Podem entrar novos membros nesse casamento coletivo, já que se fala muito na possibilidade do MDB ingressar na base de Rui Costa. Como o senhor avalia isso?
Leão – É possível que isso aconteça. Vamos receber o pessoal do MDB junto conosco, mas também estamos conversando com mais gente, como o deputado federal Alex Santana e o deputado estadual Samuel Júnior, que estão deixando o PDT e podem vir para o PP.

TD – Se o Senado não aprovar a volta das coligações, o senhor não acha que pode haver um movimento também de saída de quadros do PP em busca de melhorar as chances de eleição ou reeleição? 
Leão – Eu acho que quanto mais candidatos tivermos, mais deputados faremos. Eu tenho certeza que do PP não sai ninguém. Não tenho essa preocupação.

TB – O senhor é contra ou a favor da volta das coligações?
Leão –  Rapaz, eu não sei. Eu acho que para termos partidos fortes você não tem que ter volta das coligações. Agora, temos alguns companheiros que preferem a volta das coligações. Dentro do nosso próprio partido há divisão sobre essa questão.

“Nosso presidente é impetuoso.
Agora, no íntimo dele, e ele é uma pessoa
que eu conheço bem,
ele quer é fazer o melhor dele.”

TB – Que avaliação o senhor faz do governo Bolsonaro? 
Leão – Rapaz, o governo Bolsonaro é um governo muito impetuoso. Você viu aí o 7 de setembro, não é? No 7 de setembro ele fez, disse isso, aquilo outro. Isso é uma característica do nosso presidente. Nosso presidente é impetuoso. Agora, no íntimo dele, e ele é uma pessoa que eu conheço bem, ele quer é fazer o melhor dele. Agora, o melhor dele talvez não seja o melhor para o povo brasileiro.

TB – Bolsonaro, que segue sem partido, seria bem-vindo no PP?
Leão – Não sei. Eu acho que dentro do PP teríamos um grande problema para ele. Porque ele vindo para o PP, vai ter estados no Brasil que não vão apoiá-lo. Aqui na Bahia pode ser um exemplo.

TB – A ponte Salvador-Itaparica sai ainda no governo Rui Costa ou, digamos assim, somente num eventual governo de João Leão? 
Leão – A obra da ponte vai começar no mês de novembro e teremos quatro anos para concluir.  Quero iniciar a ponte como vice-governador e inaugurar a ponte como governador. E não tem só isso, estamos com muitos projetos na secretaria, como falei antes. Vamos entregar também a ponte que vai ligar Barra a Xique-Xique e faremos uma nova via para o oeste da Bahia, entre Barreiras e Barra, já autorizada pelo governador e que estou discutindo na Seplan. Estamos ainda fomentando contratos com o Banco Mundial para aplicarmos no oeste e em outros territórios e construindo usinas de açúcar. Tem ainda a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), que vai aumentar a receita do estado nesse primeiro momento em 35%. Temos vários projetos e obras em andamento que irão elevar a receita da Bahia de R$50,1 bilhões para R$150 bilhões.

TB – O senhor tem tido uma agenda própria de viagens, independente daquela de Rui Costa. Seria já um sinal de afastamento? 
Leão – Quando isso acontece, é porque tem a correria de um lado e a ligeireza do outro. Leão é a ligeireza, e Rui Costa é a correria. Estamos juntos. Por isso o governo tem uma aprovação excepcional. Essa semana mesmo Rui vai para a Europa e eu vou para Santa Catarina. Ele terá uma reunião com 40 produtores de vinho e eu vou assinar um contrato com 14 produtores de vinho que querem vir para a Bahia. Queremos transformar a Bahia numa grande potência. Para isso, nós temos que ter a ligeireza e a correria. Disso tudo vai sair um estado mais forte.

13 de setembro de 2021, 05:39

Compartilhe: