Especial Rioja: A padroeira dos riojanos produz o Licor Valvanera – por José Falcón Lopes
Começo esta série de artigos sobre a Denominación de Origen Calificada (D.O.Ca) Rioja desde um local muito especial, localizado bem pertinho das famosas rotas ou “rutas” do enoturismo das suas três regiões vitivinícolas (Rioja Alta, Rioja Baixa e Rioja Alavesa): escondido no coração da Sierra de la Demanda, está o Monastério de Nossa Senhora de Valvanera, Casa da Padroeira desta comunidade autônoma da Espanha conhecida mundialmente pela alta qualidade dos seus vinhos.
Todavia, diferentemente dos premiados enólogos riojanos, a Virgem de Valvanera não produz vinho e, sim, uma bebida destilada à base de álcool de uva com a adição de ervas especiais e açúcar mascavo: o Licor Valvanera.
Vale destacar que a festa oficial da Virgen de Valvanera ocorre no dia 15 de setembro, mas os peregrinos costumam prestar suas homenhagens a partir do segundo sábado e do segundo domingo deste mesmo mês.
Um bodeguero missionário
Saji Karippai é o bodeguero responsável pela produção do Licor Valvanera. Ele é natural da Índia, da região de Madras, onde está localizado o Santuário do Apóstolo São Tomé.
Saji vive há cerca de 15 anos no Monastério de Valvanera e trabalha nas bodegas, na loja e na manutenção do Monastério, que já foi administrado pela Ordem de São Bento (Beneditinos), mas hoje está sob a administração da ordem Instituto do Verbo Encarnado.
Ele conta que, na sua origem, em 1949, o licor se chamava Benedictine. Depois houve uma disputa pela patente com um licor produzido na França e os monges beneditinos mudaram o seu nome, em 1954, para Licor Valvanera e mudaram também a sua receita.
“O Licor Valvanera é produzido com a adição de 12 ervas (cravo, canela, camomila, menta, noz moscada, raiz de lírio, angélica, hisopo, coriandro, enebro, etc). O álcool de uvas é colocado no alambique de cobre com as 12 ervas e um pouco de água por 3 dias destilando com fogo a lenha, que é colocado por baixo do equipamento”, explica.
Saji conta que a essência do Licor Valvanera nasce do vapor do álcool de uva misturado com as ervas, que sai pelo tubo da parte superior do alambique com um teor alcoólico de 70° a 75°.
A essência do licor é depois resfriada, misturada com açafrão e açúcar mascavo e tem seu teor alcoólico reduzido para 36°. Toda a produção é feita sem a adição de conservantes químicos.
“Este sabor doce e de ervas torna ainda mais especial o Licor Valvanera”, destaca Saji Karippai.
São produzidos, em média, três lotes anuais do famoso licor riojano, cada um deles composto por cerca três mil garrafas, numa produção total de cerca de 10 mil garrafas.
Testemunho
Da minha experiência gastronômica com o Licor Valvanera dou testemunho de que é delicioso e mentolado. Gosto de bebê-lo puro num pequeno cálice, como digestivo, mas só recomendo para gargantas acostumadas com bebidas de teor alcoólico mais elevado.
Recomendo também uma “maridaje”, a versão combinada do Licor Valvanera com a sobada, um bolinho típico feito com farinha de trigo e ovos, que está sempre presente na cozinha das “abuelas” riojanas.
Em todo caso, até para quem não bebe e é ateu, vale a pena visitar o Monastério de Valvanera. A Sierra de la Demanda é um local de grande beleza natural e o som das águas do Rio Najerilla transmite muita tranquilidade.
O Monastério de Valvanera (o site oficial é www.monasteriodevalvanera.es) está fora das rotas tradicinais do enoturismo, mas proporciona um contato com La Rioja profunda, uma comunidade espanhola que aprendeu que a prosperidade nasce do trabalho duro, da organização social e da paz.
José Falcón Lopes é hispano-brasileiro, jornalista formado na Facom/UFBA e autor da Coluna VinhosBahia.
E-mail: colunavinhosbahia@gmail.com
Instagram: @VinhosBahia














