Exclusivo: “O vinho pode se tornar mais barato no Brasil se fizer parte da nossa gastronomia no dia a dia”, defende Bernardo Pinto da Zahil
por José Falcón Lopes
Conceituado educador de vinhos, com certificação DipWSET, diretor técnico e comercial da Zahil Importadora, o mineiro Bernardo Pinto esteve em Salvador entre os dias 21 e 24 de agosto para participar do festival Wine Brasil Music (WBM) no Palacete TiraChapéu.
Neste bate-papo exclusivo com a Coluna VinhosBahia, Bernardo apresentou alguns rótulos do portfólio de vinhos de alta gama importados pela Zahil e que estiveram disponíveis para degustação do público baiano durante o WBM.
Embaixador dos vinhos do Conselho Regulador da Denominação de Origem (D.O.) Jerez e Manzanilla (Espanha) para o Brasil, Bernardo trouxe uma excelente novidade sobre a Sherry Week ou Semana do Jerez deste ano, que acontecerá entre os dias 03 e 09 de novembro: a Feira do Jerez, organizada pela jornalista e empresária Fernanda Fonseca, está crescendo e terá duas edições, a primeira na cidade de São Paulo (01/11) e a outra no Rio de Janeiro (09/11).
Ele falou também da sua missão como educador de vinhos e fez provocações interessantes para você, amante de vinhos que lê a Coluna VinhosBahia. Aproveite a entrevista de Bernardo Pinto sem moderação e, de preferência, combinada com um bom vinho. Boa leitura.
Coluna VinhosBahia: O que significou para a Zahil participar da primeira edição do festival Wine Brasil Music em Salvador?
Bernardo Pinto: A realização do Wine Brasil Music no Palacete TiraChapéu foi uma iniciativa extraordinária e delicada, porque o Palacete é uma construção histórica, o que sempre envolve questões de conservação, manutenção e também de utilização deste equipamento. Desde o começo apoiamos quando os sócios e a equipe de organização nos ofereceram a oportunidade de estar aqui, uma oportunidade de estar mais perto do mercado de Salvador, do consumidor de vinhos da Bahia, mas também uma chance de apoiar um movimento cultural de visibilidade da gastronomia baiana e internacional, porque aqui é um encontro disso. A Preta e o Claude Troisgros, em especial, que cruzam França e Brasil. E ainda por cima veio o Wine Brasil Music, que é um turbo disso tudo: além da gastronomia, trouxe tantas outras coisas da cultura que são importantes como a música e outros produtos importantes para a Bahia como os chocolates e os charutos.
Coluna VinhosBahia: Quais as novidades que a Zahil trouxe para o Wine Brasil Music?
Bernardo Pinto: Fazemos hoje uma importação de quase 400 vinhos de 15 países e 72 produtores. Aqui no evento trouxemos cerca de 60 vinhos. A gente apresenta esses vinhos de forma diferente para profissionais e apaixonados pelo vinho. Na quinta e na sexta pela tarde nós recebemos os profissionais. Às noites e aos finais de semana, recebemos o público apaixonado. E trouxemos de tudo aqui: desde coisa muito acessível, fácil de beber e refrescante para qualquer momento até grandes ícones do vinho, coisas muito raras até como o Viña Arana Gran Reserva La Rioja Alta, que eles levaram alguns anos preparando para promover como Gran Reserva. Foi um Reserva durante muitas décadas e passaram anos para promovê-lo para Gran Reserva. É um Gran Reserva maravilhoso. A gente não abre um vinho como este todos os dias e você não encontra em qualquer lugar e aqui no Palacete esteve à disposição. Ele tem uma base de Tempranillo, tem Garnacha e tem Graciano, uma uva que por muito tempo foi mal interpretada e hoje é fundamental para fazer grandes vinhos porque dá vivacidade e estrutura para os vinhos.
Trouxemos os novos vinhos Revelado – o branco e o tinto – da Herdade do Peso do Alentejo, uma região de Portugal que faz muito sucesso no Brasil, mas às vezes é mal entendida, porque é vista só como uma região de vinhos muito maduros e os vinhos Revelado são muito estruturados, mas superfrescos, deliciosos, que convidam a beber mais uma taça, que convidam a comer enquanto você está bebendo. É uma delícia. Os dois são blends. O tinto é base Alicante Bouchet e o branco é base Arinto. São talvez as duas uvas mais importantes do Alentejo. Estes blends trazem pequenas quantidades de outras uvas relevantes na região. Aliás, o branco tem até uma curiosidade: ele tem um pouco de Verdelho original da Ilha da Madeira, não é a Verdelho plantada no Alentejo. São vinhos para quem gosta muito de estudar e descobrir preciosidades precisa provar.
Trouxemos também um vinho laranja que muita gente não conhece e talvez parte das pessoas que conheceram, tenham sido apresentadas a ele da maneira errada. É um vinho branco que tem maceração, mas tem contato prolongado com a casca da uva, que dá a ele um quê de tinto: é o ORAnge, um vinho da vinícola francesa Château de Jau. É mais ou menos novo, tem pouco mais de um ano que estamos trazendo ele. É um laranja especialmente interessante para quem não conhece ou para quem tem uma imagem negativa: ele tem uma textura que vem da casca, mais firme, que são alguns perfumes e alguns sabores que, inclusive, lembram a laranja. É uma base de Chardonnay, que dá uma gordurinha para o vinho, depois tem Gewürztraminer, que é uma variedade muito aromática, e Viognier, que é uma variedade também muito aromática, mas de outro jeito. É um vinho muito útil para apresentar o vinho laranja para quem não está acostumado. Ele tem uma maceração curtinha, esse contato com a casca não é por muito tempo, então é uma boa introdução aos vinhos laranjas.
Coluna VinhosBahia: Os donos da Zahil são libaneses e, se não me engano, vocês importam vinhos do Líbano da vinícola Château Kefraya. São vinhos de fabricação própria?
Bernardo Pinto: Os donos da Zahil, Serge e Antoine, são libaneses. Não é fabricação própria. A Château Kefraya é uma das vinícolas mais clássicas e mais importantes do Líbano. É uma vinícola relativamente recente, ela se firmou por volta dos anos 1970, logo quando eclodiu a Guerra do Líbano. Era uma época em que só tinham duas outras vinícolas no Líbano. Temos oito vinhos do Líbano. São vinhos muitos curiosos como um vinho de variedades brancas libanesas, mas não trouxemos aqui para o evento. São variedades autóctones, que só se desenvolvem lá. Eles fazem vinhos bem interessantes no Líbano.
Coluna VinhosBahia: Vamos falar de Jerez? Como é a missão de ser embaixador dos vinhos do Conselho Regulador D.O. Jerez y Manzanilla no Brasil?
Bernardo Pinto: Vamos. É uma missão gratíssima porque uma das coisas que eu mais adoro na minha vida é poder contar para as pessoas: escuta, existem os vinhos de Jerez e isso pode ser fantástico. É também um pouco ingrata no sentido de que é um mercado muito novo e muitas vezes os players não entendem esses vinhos tão diferentes. Não entender não é o problema. Às vezes, a gente trabalha um montão e parece que a gente tá remando sozinho. Mas tem gente como você e outros apaixonados por Jerez que querem ajudar a comunicar. As pessoas cada vez mais estão interessadas em Jerez e uma das portas de entrada mais efetivas, que melhor funcionam com Jerez é a coquetelaria. Os vinhos de Jerez são muito diferentes e não se parecem com os vinhos que as pessoas estão acostumadas a beber e assustam quando elas provam. Na coquetelaria isso não acontece porque o coquetel é uma combinação de texturas e sabores diferentes e a gente diminui o impacto e introduz esses sabores para as pessoas de uma maneira mais fácil.
A Zahil tem sete vinhos de Jerez de três bodegas: La Guita, que é uma referência em Manzanilla de San Lúcar de Barrameda; dois vinhos da Real Tesoro, um Fino e um Oloroso; e Valdespino, que é talvez o maior nome dos vinhos de Jerez por sua história e qualidade. Trazemos alguns vinhos da Valdespino: Inocente Fino, Tio Diego Amontillado, Viejo C.P. Palo Cortado e El Candado Pedro Ximenez. Temos também um vinho branco Valdespino Palomino Fino, não fortificado e não envelhecido em soleira, como têm que ser os vinhos do D.O. Jerez, então ele não é oficialmente D.O. Jerez, mas é a base para outros grandes vinhos de Jerez. Ele é Jerez em todos os sentidos, menos nas técnicas exigidas por legislação. Esse vinho tem um estilo de produção que já está em debate na Denominação de Origem e deve ser inserido muito em breve na legislação de Jerez, com uma categoria específica.
Coluna VinhosBahia: Você já pode divulgar algum evento da Semana do Jerez deste ano?
Bernardo Pinto: Todo ano temos em São Paulo a Feira de Jerez, que é organizada pela Fernanda Fonseca com os importadores. Este ano eu sei que a Feira de Jerez vai acontecer em São Paulo no dia 01/11 e também no Rio no dia 09/11. Ela está crescendo aos poucos. Esperamos que em alguma hora aconteça também em Salvador. A Feira é um evento já está estabelecido e vamos fazer com que haja muitos outros.
Os restaurantes e os bares de coquetelaria geralmente são os principais criadores de novos eventos na Semana do Jerez porque é simples: o grande trunfo da Semana do Jerez é que você não precisa de autorização para criar o seu evento. Qualquer pessoas pode organizar um evento, às vezes até um evento privado, e isso pode ser destacado e divulgado pelo Conselho Regulador do D.O. Jerez. Isso gera um movimento de apaixonados que fazem a Semana do Jerez crescer e se difundir ao longo dos anos. É simples o suficiente para uma pessoa que tenha, por exemplo, um restaurante com drinks e resolve criar na Semana do Jerez uma versão de Negroni Jerez ou qualquer outro coquetel clássico de Jerez, oferecer para as pessoas e registrar no site www.sherry.wine/sherryweek que vai aparecer como parte da programação oficial no mundo todo. É um movimento descentralizado extraordinário, é muito legal.
Coluna VinhosBahia: Tem mais alguma informação ou recado para compartilhar com os leitores da Coluna VinhosBahia?
Bernardo Pinto: O recado mais importante que eu tenho não é só para a Bahia, mas como a Bahia tem uma cultura gastronômica muito forte, uma identidade muito forte, uma defesa da própria gastronomia muito forte, o recado é incluir vinho nessa gastronomia. Alguém poderia dizer que vinho não faz parte da nossa cultura local, mas agora com o Wine Brasil Music já faz. Tem várias vinícolas na Bahia, especialmente na Chapada, mas independente disso, é comum a gente tomar vinho no Brasil com um cardápio mais europeu, um cenário mais europeu, só quando tá frio, só no restaurante francês. Isso é um desperdício imenso de oportunidades para a gente viver um deleite maravilhoso.
Vai comer moqueca? Escolha um vinho branco maravilhoso ou até um tinto que goste muito, se quiser, ou um espumante, um rosado. Se vai combinar muito ou não, o que importa é que foi a sua escolha. Desfrute o vinho com a sua comida predileta, com o seu prato regional, com a receita da sua família ou da sua terra. Isso faz falta no Brasil. E como a Bahia tem essa fora, podemos mudar muito essa realidade do vinho, inclusive fazendo com que ele se torne mais barato se ele fizer parte da gastronomia no dia a dia. Não precisa ser um vinho caríssimo, só precisa ser uma ocasião que as pessoas queiram desfrutar. Isso é a minha missão principal e meu pedido para a comunidade de enófilos da Bahia.
Coluna VinhosBahia: E quem quiser comprar os vinhos da Zahil aqui em Salvador, como é que faz?
Bernardo Pinto: Aqui no Wine Brasil Music nós realizamos vendas com oportunidades especiais. Quem não veio precisa ficar esperto para participar dos próximos eventos. E temos alguns parceiros de negócios aqui na Bahia. Em Salvador, em especial, estamos presentes no Almacen Pepe e em muitos restaurantes, principalmente aqui nos restaurantes do Palacete. Pode também procurar Alayde Maia, nossa representante aqui em Salvador, que pode organizar uma apresentação porque nem todos os vinhos do nosso portifólio estão disponíveis aqui em Salvador. O telefone dela para contato é 71 99207-8070.
José Falcón Lopes é hispano-brasileiro, jornalista formando na Facom-UFBA e autor da Coluna VinhosBahia.
E-mail: colunavinhosbahia@gmail.com
Instagram: @VinhosBahia
















