EXCLUSIVO: Uma masterclass na forma de entrevista com Bernardo Pinto sobre a Semana do Jerez 2024 no Brasil
José Falcón Lopes
Todos os anos, durante a Sherry Week ou a Semana do Jerez, pessoas do mundo inteiro apaixonadas por estes vinhos fortificados produzidos com uvas Palomino, Pedro Ximénez (PX) e Moscatel na D.O. Jerez e Manzanilla, na Andaluzia (Espanha), criam eventos sobre estas bebidas.
Aqui no Brasil, o “jerezero” Bernardo Pinto, diretor técnico e comercial da Zahil Importadora, é o embaixador oficial da Sherry Week, que este ano irá acontecer entre os dias 04 e 10 de novembro. A Coluna VinhosBahia teve a honra de entrevistá-lo para compartilhar com você essa verdadeira masterclass sobre a Semana do Jerez em nosso País.
Um aviso importante: durante a leitura desta entrevista, você pode sentir um forte impulso de abrir um Fino, ou um Manzanilla, quem sabe um Palo Cortado, ou um PX, talvez um Oloroso, um Amontillado ou preparar um drink com um cream ou um brandy de Jerez… Boa leitura!
Coluna VinhosBahia: Bernardo, você pode falar um pouco da sua história no mundo dos vinhos e, mais especialmente, com os vinhos D.O. Jerez e Manzanilla?
Bernardo Pinto: Eu nasci e cresci em Belo Horizonte e os momentos de família sempre foram ao redor da mesa. Na minha adolescência, por acaso, os momento entre amigos também eram muitas vezes ao redor da mesa. Comecei a trabalhar cedo num restaurante e isto rapidamente me aproximou do vinho. Comecei a estudar a sério bem cedo, com 20 anos, então me mudei para São Paulo com 22 anos e isto acelerou imensamente as coisas.
Nos cursos de vinho tratávamos de Jerez, mas de maneira acadêmica e desinteressante. Um dia, eu já em estudos avançados, um amigo me convidou para uma degustação completíssima com alguns luminares da revolução da qualidade e estilo que estava acontecendo em Jerez. E isso abriu completamente meus olhos e minha mente. Fui visitar a região assim que pude, fiz o Curso Formador oficial da região em 2013 e me engajei com uma pequena comunidade internacional que seria a origem da Semana do Jerez.
Coluna VinhosBahia: Você é o atual embaixador da Sherry Week no Brasil. Como é a sua relação com os organizadores desse evento na Espanha e com os produtores de Jerez e Manzanilla?
Bernardo Pinto: Em 2014, fizemos de maneira colaborativa o World Sherry Day, capitaneados pela Chelsea Anthon, que é hoje responsável pela comunicação mundial da Sherry Week.
A partir de 2015, o Conselho Regulador de Jerez e Manzanilla, órgão que organiza a produção, a legislação e a comunicação dos vinhos da região, oficializou a Semana Internacional e seu suporte à comunicação da mesma e desde então venho sendo o embaixador no Brasil.
Eu sou diretor técnico e comercial da importadora Zahil e isto faz com que durante o ano eu trabalhe com foco em meus vinhos. Mas “para a semana”, desde 2015 eu venho buscando o trabalho colaborativo com os outros importadores e produtores e represento toda a região quando fazemos eventos e apresentações.
Com os produtores mais engajados, isso quer dizer excelente relação e muito empenho da minha parte para que eles sejam representados. Com engajados quero dizer os que anualmente, praticamente desde o começo, se empenham em fazer eventos e degustações acontecerem no Brasil. São basicamente Gonzalez-Byass (Tio Pepe), Fernando de Castilla, El Maestro Sierra durante alguns anos (estão fora do mercado agora) e Grupo Estevez, com Valdespino, Real Tesoro e La Guita, que são as marcas que eu represento no Brasil como importador.
Coluna VinhosBahia: Já existe uma programação da Sherry Week no Brasil para ser divulgada?
Bernardo Pinto: Ela é constantemente atualizada no Mapa da Semana do Jerez, em https://www.sherry.wine/sherryweek/events/in/br#search.
Penso que uma das maiores belezas da Semana do Jerez seja a busca desde o começo pela descentralização. Embora eu sirva de embaixador e o Consejo Regulador seja o divulgador, a ideia central dessa semana é que ela independa completamente de qualquer pessoa ou empresa.
Qualquer um pode fazer qualquer tipo de evento, inclusive eventos privados, não abertos ao público, e incluí-lo na programação oficial! É muito lindo isso. Todo ano tem jantares ou degustações privadas registrados, além de cursos, jantares e outros eventos mais elaborados.
Também tem “eventos” que são meramente a vontade de pessoas ou estabelecimentos em divulgar o Jerez e fazer parte da Semana. É simples o suficiente para um restaurante ou loja que já tem os vinhos simplesmente colocá-los em destaque, oferecer durante a Semana e esse esforço em si é um evento e pode ser registrado oficialmente.
Coluna VinhosBahia: Qual a sua avaliação em relação ao consumo de vinhos D.O. Jerez e Manzanilla no Brasil?
Bernardo Pinto: O consumo dos vinhos por aqui é mesmo muito, muito pequeno. Embora as importações estejam se tornando mais estáveis, com produtores que permanecem no mercado e que têm importações anuais, as quantidades são muito pequenas e a área em que os vinhos são apresentados e consumidos ainda é muito restrita.
É, principalmente, São Paulo Capital, com tantos restaurantes e bares de coquetelaria, o ponto de consumo. Mas é evidente o crescimento do interesse e do engajamento – primeiro de profissionais e uns apaixonados mais envolvidos, mas depois de público mais amplo.
Todo ano surgem eventos em cidades em que antes não havia e todo ano temos mais bartenders, sommeliers, chefs de cozinha e bebedores de vinho em lugares variados pelo Brasil.
Coluna VinhosBahia: Existe mais alguma informação que você acha importante destacar para os leitores da Coluna VinhosBahia?
Bernardo Pinto: Destaco alguns dos eventos que já estão registrados e não são em São Paulo:
Porto Alegre (RS): https://www.sherry.wine/sherryweek/events/os-vinhos-de-jerez
Sorocaba (SP): https://www.sherry.wine/sherryweek/events/wine-experience-sherry-week
Rio de Janeiro (RJ): https://www.sherry.wine/sherryweek/events/masterclass-and-tasting-the-wines-from-jerez-jerez-cocktails-and-food-pairing
Curitiba (PR): https://www.sherry.wine/sherryweek/events/graduacao-alcoolica-curso-de-coquetelaria-modulo-os-vinhos-de-jerez-na-coquetelaria
Mas também destaco o fato de que todo ano os registros ficam para a última hora, então nas próximas duas semanas e mesmo durante A Semana veremos subir e diversificar essa agenda.
Sobre os leitores, eu convido a todos a experimentar. Dêem uma olhadinha online no que dizem os especialistas e apaixonados do Brasil e do mundo, para que possam entender um pouquinho sobre a diversidade de vinhos e escolher dois ou três diferentes para diferentes momentos e ocasiões e assim ficarem felizes e não terem suas expectativas quebradas. Porque realmente são vinhos especiais, mas são muito diferentes do que a maioria imagina!
