Mensagens no celular de Bolsonaro revelam articulações políticas e apoio a CPI contra ministros do STF

Da Redação
Mensagens extraídas do celular de Jair Bolsonaro, apreendido pela Polícia Federal (PF) em maio de 2023, revelam que o ex-presidente seguiu atuando politicamente mesmo após deixar o cargo. O material mostra contatos com parlamentares, empresários e aliados com o objetivo de manter influência durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O conteúdo, obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, inclui 7.268 arquivos entre conversas no WhatsApp, áudios, documentos e vídeos. O aparelho foi recolhido durante investigação sobre fraudes em certificados de vacinação, mas não é o mesmo celular apreendido em julho, quando Bolsonaro foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
Entre os diálogos analisados, está uma conversa com o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ), em que Bolsonaro incentiva a adesão à CPI que visava investigar supostos abusos de autoridade por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No áudio, datado de 26 de abril de 2023, Lopes expressa receio em assinar a proposta: “Eu não queria entrar nessa bola dividida, com medo de dificuldades até para o senhor mesmo nas decisões lá. O que o senhor acha?”. Bolsonaro responde: “Eu controlaria. Sempre existe a possibilidade de retaliações”. Na sequência, Lopes confirma que assinou o requerimento.
Meses depois, em 25 de julho, o deputado montou uma barraca na Praça dos Três Poderes, em frente ao STF, em protesto contra as decisões do ministro Alexandre de Moraes. Com a boca coberta por esparadrapo, o parlamentar denunciou supressão de liberdades. No dia seguinte, por ordem de Moraes, o acampamento foi desfeito e a praça cercada com grades — medida que o ministro justificou como forma de evitar novos episódios semelhantes aos do dia 8 de janeiro.
Outro trecho do material mostra conversas entre Bolsonaro e o ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley. Em abril de 2023, Shelley teria oferecido arcar com os custos de uma viagem do ex-presidente a Israel. Shelley ocupou o cargo diplomático entre 2017 e 2021 e manteve proximidade com Bolsonaro durante o mandato.