Papa Francisco era devoto de Nossa Senhora Aparecida e cultivava profunda ligação com o Brasil

Da Redação
O Papa Francisco, falecido nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, deixa entre os brasileiros não apenas o luto de milhões de católicos, mas também o afeto de quem foi, mais do que um líder religioso, um amigo do país. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, Francisco escolheu o país como destino de sua primeira viagem internacional como pontífice, apenas quatro meses após sua eleição, em março de 2013.
Em julho daquele ano, o papa desembarcou no Rio de Janeiro para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), onde permaneceu por sete dias. A visita foi marcada por gestos de simplicidade, mensagens de acolhimento e forte conexão com os jovens e os mais pobres.
Ainda no voo de Roma para o Brasil, brincou com jornalistas brasileiros que “lamentaram” o fato de ele ser argentino. “Vocês querem tudo. Já têm um Deus brasileiro, queriam um papa também?”, respondeu, com bom humor. No primeiro discurso oficial, em 22 de julho, falou sobre o “imenso coração” dos brasileiros e disse que vinha “atraído pelos braços abertos do Cristo Redentor”.
Francisco também viajou até Aparecida (SP) para visitar o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, reforçando sua devoção à padroeira do Brasil. Foi sua segunda visita ao local — a primeira havia ocorrido em 2007, como cardeal. Diante da imagem da santa, o papa orou em silêncio, ofereceu flores e a chamou de “minha mãe”.
Em Aparecida, celebrou a primeira missa pública de seu pontificado na América Latina e fez um apelo em favor da juventude: “Os jovens são um motor poderoso para a Igreja e para a sociedade”, afirmou. Também destacou que, apesar das dificuldades da vida, “Deus nunca nos deixa afundar”, e que “o mais forte é Deus, e Deus é nossa esperança”.
Voz dos pobres
A passagem pelo Brasil foi marcada ainda por fortes declarações sociais. Durante uma visita à comunidade de Varginha, na zona norte do Rio, criticou as desigualdades e cobrou ações concretas: “Enquanto a desigualdade social não for resolvida, não haverá paz duradoura”, alertou. Também ouviu confissões de jovens de diferentes países, selecionados por sorteio.
No encerramento da JMJ, celebrou uma missa em Copacabana, com a participação de cerca de 3 milhões de fiéis. No discurso de despedida, demonstrou carinho pelo país:
“Já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tão grande e de grande coração, este povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários.”
Após retornar ao Vaticano, continuou a manifestar o carinho pela experiência no país. Disse, em diversas ocasiões, que a visita ao Brasil havia sido um “grande presente” e descreveu os brasileiros como “um povo generoso” e “de grande coração”. Em 2014, chegou a afirmar que a viagem havia sido “inesquecível” e que o povo brasileiro “roubou seu coração”.
Santa brasileira
A relação de Francisco com o Brasil ganhou novo marco em 2019, com a canonização de Irmã Dulce, a freira baiana que ficou conhecida como o “anjo bom da Bahia”. A cerimônia no Vaticano foi acompanhada por cerca de 50 mil pessoas. Com o reconhecimento de dois milagres, a religiosa passou a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres, tornando-se a primeira santa nascida no Brasil.