Revista The Economist classifica tarifaço como “chocante agressão de Trump ao Brasil”

Da Redação
A revista britânica The Economist classificou como uma “chocante agressão” a decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto, além da suspensão de vistos para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em reportagem publicada na última quinta-feira (24), a revista afirma que raramente, desde o fim da Guerra Fria, os EUA interferiram tão profundamente em um país latino-americano.
Intitulada A chocante agressão de Trump ao Brasil, o artigo aponta que o presidente americano, Donald Trump, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), são “inimigos ideológicos”.
O texto também cita que aliados do republicano criticam abertamente as investigações conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes sobre desinformação nas redes sociais.
De acordo com a revista, o estopim para a escalada de tensão teria sido a realização da cúpula do Brics, nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. O encontro reuniu líderes de países emergentes em torno de pautas econômicas e políticas globais, afastadas da influência de Washington.
A publicação também critica a resposta do STF às investigações sobre Jair Bolsonaro, apontando que ela “também foi agressiva”. O ex-presidente é réu no Supremo por tentativa de golpe de Estado, está proibido de usar redes sociais e usa tornozeleira eletrônica.
Efeito contrário
Para a Economist, a ofensiva americana tem gerado efeito oposto ao pretendido, fortalecendo Lula e isolando a oposição. “Brasileiros de todos os tipos estão apoiando Lula”, diz o texto, que aponta uma recuperação nos índices de aprovação do presidente e vantagem sobre possíveis adversários nas eleições de 2026.
A revista também afirma que o Congresso, de maioria conservadora, começou a dar sinais de alinhamento ao Planalto e cogita medidas retaliatórias contra os EUA.
No plano econômico, o impacto das tarifas deve atingir setores sensíveis da balança comercial brasileira, como exportações de carne, café e suco de laranja. A reportagem observa que empresas sediadas em redutos eleitorais de Bolsonaro serão as mais afetadas. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), tradicionalmente alinhada ao ex-presidente, condenou as tarifas e classificou a medida como “de natureza política”.
Bolsonaro tentou se desvincular do episódio, afirmando que a decisão de Trump “não tem nada a ver conosco”.
Pix na mira
Outro ponto citado pela Economist é a insatisfação americana com o Pix, sistema de pagamento eletrônico criado pelo Banco Central, que impulsionou a concorrência no setor financeiro brasileiro. A revista destaca que o Pix incomodou grandes operadoras de cartão de crédito, como Visa e Mastercard, que perderam mercado.
Apesar de reconhecer que algumas queixas comerciais dos EUA têm fundamento, como o protecionismo da indústria brasileira, a revista pondera que esse não parece ser o real motivo das sanções.
“O governo brasileiro tenta contatar a Casa Branca desde maio para negociar um acordo comercial, mas seus apelos têm sido ignorados”, conclui o texto.