sábado, 27 de julho de 2024

O alerta do Canela – por Pacheco Maia

Foto: Reprodução

O Canela é meu mundo! Foi com espanto que li a notícia que o menor bairro da Velha Cidade da Bahia, que um dia foi chamado de Bom Gosto do Canela pela excelente localização urbana, estaria se transformando na nova cracolândia de Salvador.

No Canela, passei minhas doces e saudáveis infância e adolescência. Tempo em que muita gente ainda morava em casa e lá existiam Marista, Ebec, Colégio São Paulo, Paes Mendonça, faculdades pulsantes da UFBA, Prontoped e o Pronto Socorro do Hospital Getúlio Vargas. Tinha até ônibus com destino à Praça da Sé.

Muitas dessas referências não existem mais ou lá não estão mais. Muitas casas viraram clínicas, quando não prédios. Foi no saudoso Ebec em que aprendi o beabá do inglês. No Marista, bati muitos babas nos sábados à tarde com vizinhos que lá estudavam. No São Paulo, meus irmãos estudaram. Meu colégio era o 2 de Julho, no Garcia, que, para chegar, se gastava apenas alguns minutos de paletada.

A loja 15 do Paes Mendonça tinha a lanchonete que era o nosso Mc Donalds. Vou te contar uma verdade: apesar de seu diminuto território, a oferta de serviços no Canela era tão incrível ao ponto de ser possível se educar do infantil ao nível superior no próprio bairro. Quase aconteceu isso comigo. Comecei na Escolinha Pernalonga e me formei na Faculdade de Comunicação, que, na época, era lá. Só não estudei no Marista ou São Paulo.

Realmente não há mais o idílico Canela que tive a graça de viver e onde pude conhecer tanta gente boa, que enriqueceu meu círculo de amizade. Agora não estou morando mais propriamente dentro dos limites do Canela, onde ainda estive por longo tempo da juventude e maturidade.

Moro atualmente na fronteira entre a Graça e o Canela. Daqui ainda vivencio e observo as mudanças que esses dois bairros siameses, localizados em zona tradicional, sofreram nessas últimas décadas. A falta de segurança pública não é exclusividade só deles. Está em toda a cidade e em todo o estado. Infelizmente, sem perspectiva de melhora.

Quanto ao Canela, é bom que se noticie a necessidade de que os poderes públicos precisam tomar providência com a degradação humana que se observa por todo canto de Salvador em consequência do flagelo causado pelo consumo de drogas, motivado pelo crime organizado. Quem sabe assim a capital baiana volte a ter bairros que ofereçam a qualidade de vida, que um dia se viveu no Canela.

Pacheco Maia é jornalista, vencedor do Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo 2001 e ex-secretário municipal de Comunicação de Salvador.

29 de abril de 2024, 19:20

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